O impensável aconteceu… e o Turismo entrou em “modo de pausa”! Desde o início do ano e numa trajectória de contaminação de Oriente para Ocidente, que o novo coronavírus SARS-CoV-2, mais conhecido por CoViD-19, vem semeando um rasto de terror e destruição, ceifando vidas, arrasando economias, quartando a convivência em sociedade tal como a conhecíamos, numa frase, confrontando a Humanidade com um dos maiores desafios da sua História mais recente.
Volvidos quase três quartos de 2020, a única “arma” eficaz que, por enquanto, temos ao nosso dispor para combater este “inimigo invisível e traiçoeiro” continua a ser o confinamento, o isolamento, o distanciamento social, acompanhada das indispensáveis medidas profilácticas de higiene individual.
Ora, como se sabe, a Actividade Económica do Turismo tem a “deslocação” na sua essência, no seu código genético, como condição primordial de existência. Negar-lha, mesmo quando ou se auto-imposta, é privá-la do seu principal sinal vital.
No meio de um cenário tão negro, vem esta introdução a propósito para recordar que mesmo nos piores momentos, nas situações mais difíceis, há sempre aspectos positivos que sobressaem do aparente caos e provam que, por vezes, são necessárias circunstâncias extremas para que o que já era óbvio para muitos se torne em inquestionável para todos, pela força da sua demonstração real e prática.
Dito isto, e de entre os muitos – bons! – ensinamentos que o Mundo, em geral, e a actividade turística, em particular, têm possibilidade de retirar da presente crise que assola o Planeta, há duas lições que podem e devem ser aprendidas e apreendidas, sobretudo no que respeita ao Turismo Português e ao seu desenvolvimento futuro e que, por essa razão, merecem aqui ser destacadas:
A primeira e indesmentível, é que a Aviação é parte integrante e peça fundamental da actividade turística e, portanto, não faz qualquer sentido que continue a ser tratada à margem da lógica e da estratégia do Turismo ou, dito do ponto de vista da organização do Estado, que esteja fora da alçada e da Tutela do Turismo. Foi preciso ver este sector – que compreende as infra-estruturas aeroportuárias, o transporte, a segurança, o controlo, a navegação e a regulação aéreas – completamente inerte, para que muitos espíritos tacanhos percebessem que, entre outros factores, aeroportos vazios de passageiros e a fazerem de parque de estacionamento de aeronaves de companhias aéreas que não tinham clientes, não eram mais do que a consequência natural do avião ser, actualmente, o meio de transporte preferencial de quem viaja, isto é, daqueles que comummente designamos por turistas.
Tal quer dizer que sem turistas não há aviões a voar e sem aviões a voar (quase) não há Turismo. Parece simples! Mas já lá vão pouco mais de duas décadas e meia que muitos, entre os quais me incluo, andam sistematicamente a chamar a atenção para este facto ululante, sem que nenhum “iluminado” decisor tenha perdido um único segundo do seu “precioso” tempo a ponderar sobre a veracidade e o fundamento dos argumentos que lhe são apresentados, isto para nem sequer mencionar os benefícios que tal poderia trazer para a actividade turística e, através dela, para a economia nacional e para Portugal.
A segunda e incontornável, é que o denominado “mercado interno” tem de passar a ocupar sempre o lugar cimeiro das preocupações de todos os agentes turísticos, independentemente da natureza ou da esfera de acção de cada um pois, como já ficou inúmeras vezes provado, é o único com o qual podem incondicionalmente contar, mormente em tempos de crise. Isto significa que, doravante, e apesar da sua pequena dimensão e das limitações que possui em termos de poder aquisitivo, ele deve ser alvo de uma atenção especial, ao invés de ser facilmente “trocado” por outros mais apelativos ou sedutores no que respeita à receita que proporcionam ou aos fluxos que geram.
Note-se que, paradoxalmente, muitos “negócios” e pequenas empresas turísticas, quase todas do interior (do continente), arriscam-se a terem este como o melhor Verão (e ano) da sua história, com tudo o que de bom isso implica no que está relacionado com a sua sobrevivência e manutenção (e criação!) do emprego, exactamente pelas limitações à deslocação causadas pela pandemia e, mais importante, pela resposta dada pelos consumidores nacionais de produtos e serviços turísticos que se mobilizaram – e perceberam a relevância dessa atitude, dentro das suas disponibilidades financeiras! – para partirem à “descoberta” do (seu) país!
Em conclusão, a presente “crise” está a dar-nos uma “oportunidade” única para recuperarmos tempo perdido (caso da Aviação) e (re)valorizarmos (caso do mercado interno) os mais fiéis dos consumidores. Por isto estas são, seguramente, duas das boas (excelentes!) lições que, para já, podemos extrair desta pandemia.