E por onde posso eu começar num tema que já é tão falado?
Todos nós estamos cientes da dificuldade que são a falta de recursos humanos.
Vou aproveitar este convite para falar um pouco das expetativas dos alunos quando vão para estágios e a realidade dos mesmos quando regressam à escola já com experiência vivida.
Como formador de Gestão de Restauração e Bebidas numa escola hoteleira, tenho a realidade das expetativas que os alunos têm meses antes de iniciarem o seu estágio curricular numa unidade hoteleira.
Normalmente esta expetativa é criada a partir do momento que os alunos começam os primeiros contactos com as entidades, desde as apresentações, às condições, que tarefas irão realizar, que departamento poderão vir a estagiar, que tipo de hotel irão encontrar, a localização, tudo começa a influenciar a expetativa do aluno durante o tempo escolar até ao seu primeiro dia de estágio. Os sorrisos são enormes, as motivações, o interesse, o empenho, a dedicação e a capacidade de reter todo o conhecimento adquirido são afinados para chegarem ao estágio “au point”.
Fim do tempo de estágio, regressam à escola, uns muito felizes, outros assim assim, e outros bastante desiludidos com a realidade que viveram durante aquele tempo que tanto ansiaram que chegasse.
Pergunto eu… o que terá motivado os estágios a serem tão bons para uns e menos bons para outros?
Durante os últimos anos, o feedback foi muito inconstante, uns porque faziam muitas limpezas, outros porque não lidavam com o cliente, outros porque só folgavam um dia, outros porque trabalhavam mais de 10 horas por dia, outros porque não estagiaram onde pretendiam, outros porque pensavam que iam estagiar como assistentes de direção e estiveram o tempo todo de estágio como empregado de mesa, outros porque não passaram por outras secções, entre tantas outras insatisfações.
Depois temos a outra parte da expetativa, que é cumprida à risca, porque corre tudo como previsto pelo aluno, conseguiram ter conhecimento de trabalho em várias secções do departamento, conseguiram ter noções de gestão, cumpriram as horas acordadas e tempos de descanso entre tantas outras.
E a remuneração? Outro problema que se coloca atualmente… Quem remunera o estágio tem uma grande parte preferencial na escolha dos alunos, claro está, que não é só a parte remuneratória que influencia, até porque o projeto hoteleiro em si, o mentor (tutor de estágio) que irão encontrar, o tipo de serviço que poderão praticar, quer seja no bar, quer seja no restaurante, banquetes ou até room service, pode ser também uma grande influência na escolha.
Mas acredito que tudo isto possa ser ultrapassado e melhorado se forem criados planos de estágio, onde os alunos possam ter conhecimento do mesmo, e aí a expetativa ser mais real do que vão encontrar durante o período de estágio.
Um dos métodos que utilizo atualmente é a entrevista presencial com os candidatos a estágio, faço exatamente o processo de seleção como fosse para a contratação do quadro de pessoal. Só assim ficarão esclarecidas as dúvidas que possam surgir, nessa fase apresento o plano de estágio, apresento o hotel e esclareço tudo o que o aluno possa questionar.
Um aluno que tenha conhecimento do seu plano de estágio, sabe que vai passar por várias secções, que irá prestar vários tipos de serviço, que irá praticar o que aprendeu na escola, que irá cumprir as horas devidas do seu plano de estágio, este aluno terá todas as condições para quando chegar à unidade hoteleira, não ser surpreendido pela negativa e assim defraudar as suas expetativas.
Na minha opinião, um dos pontos que os hotéis têm a ganhar com um plano de estágio assertivo, será na publicidade e promoção do próprio hotel dentro da comunidade escolar, porque ao terem bons feedbacks, os alunos seguintes vão querer também estagiar nesse hotel e assim conseguirem reter bons talentos em vários períodos do ano.
Uma das mais valias dos estágios, é a retenção de novos talentos e assim contratá-los no fim do estágio ou ficarem sinalizados para quando acabarem os cursos serem chamados para integrarem as equipas de trabalho. Acredito que um estagiário acaba por ser um embaixador informal da nossa unidade hoteleira, porque faz a sua formação em contexto de trabalho, e se gostar vai espalhar essa sensação, e a melhor publicidade que se pode ter, e o boca-a-boca.
Deste modo, é aproveitado o tempo de formação dada durante o período de estágio, de forma a não existir novamente o período de adaptação e assim já estar capacitado para entrarem diretamente para a operação diária do hotel. Evita-se ter custos extras com formações iniciais e já conhecem também os elementos e formas de trabalhar da equipa.
Acredito que havendo divulgação das ofertas de estágios, dos planos de estágio bem feitos, da criação de condições para os estagiários, da transparência em que consiste o estágio e uma boa comunicação serão elementos-chave para que a expetativa do estágio seja na verdade a realidade encontrada.
Se este trabalho for feito entre todos, ficaremos a ganhar como um todo.