Atualmente vivemos numa sociedade de tendências. As chamadas trends estão presentes no nosso quotidiano em quase tudo o que fazemos, desde que acordamos até que nos deitamos, passando pelo que comemos, o que vestimos, aonde vamos, onde trabalhamos, o que pensamos, entre muitos outros. No entanto, estes fenómenos sociais não influenciam só o quotidiano das pessoas, mas também o das empresas, independentemente da sua área de atividade. Neste sentido, o turismo e a hotelaria não são uma exceção.
A transparência é uma das trends mais mencionada no que toca ao mundo empresarial, é daquelas trends tão antiga, popular e subjetiva quanto os memes. Basta pesquisarmos na internet e percebemos que desde a crise de 2008 esta temática tem sido cada vez mais recorrente e quase usada como solução para tudo.
O conceito de transparência ou transparência empresarial, sendo o termo mais usado hoje em dia, tem vindo a ser discutido por vários autores. Alguns defendem que é a simples divulgação de informação de uma entidade para com os seus stakeholders. Outros defendem que a forma como esta informação é apresentada pode ter influência na compreensão, devendo esta ser adaptada ao público alvo. Por fim, há os que defendem que esta relação deve ser recíproca, pelo que as trocas de informação devem ser entre as entidades e os seus stakeholders e vice-versa. No entanto, o que verificamos é que não existe uma unanimidade no fórum académico sobre a sua definição e conceito. Esta falta de definição e de “fio condutor” fez com que desde o início se tenha criado uma ideia de subjetividade à volta da temática, pelo que cada um adapta de acordo com os seus interesses.
Em abril de 2019, a revista Forbes publicou o artigo “Transparency In Business: 5 Ways To Build Trust”, onde afirma que “Transparência empresarial é o processo de ser aberto, honesto e direto sobre várias operações da empresa.” (tradução própria). Na minha opinião, esta afirmação é valida e faz todo o sentido, mas continua a ser bastante difícil identificar se estas questões estão a ser cumpridas. Contudo, a transparência continua a ser considerada uma das melhores formas de identificar e resolver erros de ética e saúde moral de uma organização, bem como restaurar a confiança e diminuir a insatisfação dos colaboradores.
Nos últimos anos verificamos algumas melhorias na transparência entre o governo e os seus stakeholders, já entre as empresas e os seus stakeholders estas melhorias não foram sentidas. A realidade é que nenhuma empresa consegue sobreviver sem os seus stakeholders, mas dependendo da indústria uns têm mais importância e influência que outros.
Na área do turismo e da hotelaria a exigência de transparência também já se começa a verificar, principalmente por associações e entidades que regulam o setor. Contudo, para mim, ainda é uma incógnita se estamos realmente focados em lutar por esta transparência.
O que sinto hoje em dia é que existe um grande abismo entre os colaboradores, principalmente das direções intermédias para baixo (hierarquicamente), e os restantes stakeholders.
Por um lado, temos cada vez mais investimento em novas unidades, cada vez mais procura, cada vez mais parceiros, concorrentes, metas e fundos, tudo isto parece demonstrar confiança na área e no futuro da mesma.
Por outro lado, cada vez temos menos estudantes nas nossas escolas, maior dificuldade em adquirir mão de obra, recorremos mais a empresas de trabalho temporário, implementamos valores nas empresas, o que demonstra uma situação negativa e que tecnicamente na qual não se devia investir.
Estamos numa sociedade moderna, mas continuamos a colocar letras minúsculas em contratos. A iludir as pessoas nas entrevistas de trabalho ou exigir-lhes coisas que por si só já são ilegais sobre a desculpa de “a hotelaria é assim já devia saber”. A implementar metas e certificações, mas a usar métricas desatualizadas e que pouco ou nada refletem a realidade. A usar a ignorância de uns contra eles próprios. A fugir de procurar quem são os responsáveis. Se estes são os valores que transmitimos às nossas equipas, é exatamente estes valores que eles vão retribuir de volta.
De uma vez por todas, temos que olhar à volta e começar a valorizar todos os que estão envolvidos. Não podemos continuar a crer demonstrar aumentos anuais no setor, ano após ano se para isso temos de continuar a criar novos ambientes tóxicos, com falta de colaboradores e a exigir horas extra através da abertura de mais hotéis.
Portugal aparecer na Times Square é um orgulho, mas se calhar era mais interessante fazer o mesmo, mas com dados reais como o salário médio bruto e fixo, média de horas que um profissional da área faz em média por dia, número médio de aniversários do filho a que um colaborador falta, etc.
Podemos concluir que a transparência não é a solução para tudo, aliás até ser realmente definido o que é transparência empresarial esta vai continuar apenas a ser uma expressão para usarmos e mais tarde vermos como nos dá jeito definir, dependendo da situação e do momento. No entanto, a honestidade, a ética, a moral, o respeito pelo próximo são valores básicos e a falta destes é notória e evidente. Até percebermos que a área do turismo e da hotelaria tem como principal ativo os seus colaboradores, não vamos sair do mesmo sítio, por muito que por fora estejam a abanar a carruagem para parecer que estamos a ir a algum lado.
Se queremos ir lá para fora orgulhosos e a dizer o quão bom o nosso turismo e a hotelaria são, devemos nos certificar que todos os envolvidos concordam.