Pseudo-conselhos e o que não fazer...

Admito que não foi fácil arranjar um tema para esta rúbrica... Quando o convite chegou, fui rever quem já tinha tido o prazer de escrever para a mesma e só pensei “o que raio estou eu aqui a fazer aqui? O que posso eu acrescentar?”

Guilherme Brito de Matos

Admito que não foi fácil arranjar um tema para esta rúbrica... Quando o convite chegou, fui rever quem já tinha tido o prazer de escrever para a mesma e só pensei “o que raio estou eu aqui a fazer aqui? O que posso eu acrescentar?” 

Passei quase duas ou três semanas a pensar no que escrever, pois, julgava genuinamente que não tinha nada para acrescentar. Não queria ser excessivamente técnico, não queria falar de COVID nem de recessão económica, ... Enquanto estudava a descrição desta rúbrica vezes sem conta e lia que se trata de uma partilha de conhecimento só conseguia pensar “o que raio tenho eu de conhecimento no ramo do turismo se eu tenho 26 anos de vida e há pessoas nesta rúbrica com 30+ de carreira”. 
Portanto, o que me ocorreu partilhar é exatamente o que não fazer em meia dezena de pontos e citações que me foram dirigidas ao longo da minha curta carreira.

1) “Até podes ser o melhor do curso, mas não penses que vais ser “gestor hoteleiro” quando o acabares” – esta foi das primeiras frases que ouvi de pessoas próximas. Acho que eu e muitos outros colegas de faculdade achávamos que iríamos ser diretores de hotéis e chefes de departamento assim que acabássemos o curso... Todos nós, hoje em dia, sabemos que isto claramente não acontece. No entanto, consigo perceber a frustração da minha e das novas gerações que cada vez mais querem o sucesso de forma instantânea, pois o tempo de evolução no ramo é longo.

2) “Viver no constante hesitação do “e se“ é a pior coisa que se pode fazer” – apesar da minha pouca experiência, este tem sido um dos principais mottos da minha vida. Quando estamos numa encruzilhada e não sabemos o que fazer, o meu conselho é: faz aquilo que achas que te faz mais feliz. Se correr mal, tens tempo para emendar o erro, mas não vivas na amargura de te perguntares o resto da tua vida “como teria sido se eu tivesse ido”. Lembra-te que não é só o teu CV que conta no momento da contratação e, na minha opinião, as famosas soft skills aprendem-se com experiências de vida.

3) “Você até tem um bom CV, mas é muito novo” – esta foi uma das frases mais frustrantes que ouvi até hoje. Porque é que a idade é necessariamente um posto? Não podemos nós ser apenas bons profissionais, não obstante da nossa idade? O que não falta por aí no mundo são incríveis jovens profissionais portugueses a dar cartas nos melhores hotéis internacionais – mas somos muito novos em Portugal.

4) Você é como o Depoitre**, até pode ser bom, mas não encaixou na tática – esta frase ainda hoje me assombra durante a noite. Foi me dita no meu último dia depois da minha pior experiência em hotelaria, e o pior é que a pessoa que me disse tinha razão: eu estava infeliz. Eu tinha feito uma gestão de expectativas completamente errada e, juntando a mais alguns fatores externos, acabei por ter a minha pior experiência profissional de sempre. Mas a partir desse dia tomei uma decisão: nunca mais ficar numa empresa em que me sentisse infeliz e com cujos valores e cultura empresarial eu não concordasse.
No entanto, por vezes não somos Depoitres a jogar na tática errada, se calhar não estamos só na função certa... as entrevistas não têm o tempo suficiente para conseguir ter uma ideia geral sobre o trabalhador; muitas das novas gerações que acabam por desistir de hotelaria até podiam vir a ser os melhores profissionais do mundo, mas podem ter sido só colocados na função errada. Se ao fim de um mês de experiência os funcionários não estiverem felizes, porque não oferecer um papel diferente na organização? Julgo que depois de um mês já tem uma ideia mais concreta quais as melhores e piores características do funcionário – Imaginem como teria sido a carreira do Cristiano Ronaldo se o tivessem posto a jogar a defesa central.

5) Não te deixes cegar pela ambição – sempre fui uma pessoa ambiciosa, e, de certa forma, não há mal nenhum com isso. No entanto, foi me dito uma vez que por querer tudo ao mesmo tempo e tão rápido a curto prazo isto poderia ser mau para mim (aliás, se alguém for ver os meus primeiros anos de carreira, verificam que eu trocava de lugar a cada seis meses, pois queria mais e demasiado rápido o que me fez esquecer que o sucesso também se alcança com estabilidade).

 

Teria mais umas quantas citações e pseudo-conselhos para partilhar, mas julgo que já dei os suficientes para quem está a começar uma carreira em hotelaria. Resumidamente, não tenhas pressa, não tenhas medo de arriscar, mas também não te esqueças da tua vida para além do trabalho. O turismo/hotelaria/restauração pode ser frustrante, mas garanto que a longo prazo pode ser uma das áreas mais gratificantes de todas. 
Se alguma vez estiveres perdido e não souberes para onde ir, (primeiro, é perfeitamente normal, e segundo...) pergunta a alguém da área o que fazer – hoje em dia, com ferramentas como o LinkedIn é mais fácil. Aliás, até deixo em aberto um desafio à Rede-T - pensar num programa de mentorship.
Sempre que possível, toma a decisão que te fará mais feliz e que te garante estabilidade emocional – muitas vezes esta estabilidade emocional está diretamente ligada à equipa com que trabalhas.

**Depoitre foi um jogador que não teve o rendimento desejado no Futebol Clube do Porto, mas quando se transferiu para Inglaterra marcou meia dúzia de golos nos primeiros jogos – levando as pessoas a pensar que ele seria, efetivamente, bom jogador.