Uma vida…

Vou escrever um pouco sobre o inicio da minha carreira e não só, e estou certo de que muitos de vocês vão se rever naquilo que vão ler.

João Gomes Sanches

Uma vida…

Caros colegas, quando o Ricardo me pediu para escrever umas palavras pensei…
Vou escrever um pouco sobre o inicio da minha carreira e não só, e estou certo de que muitos de vocês vão se rever naquilo que vão ler. Bem hajam!

Nasci algarvio, em terra pombalina. Cresci “turista” entre fronteiras. Desde pequeno cruzei culturas e aprendi outro idioma, “por supuesto”!
Vivi a azáfama de ir a outro país apropriar-me do sabor dos calamares, do cheiro dos perfumes baratos e da tradição de comprar caramelos. 

Recebi na minha terra e na minha rua o “burburinho” dos espanhóis e a correria às lojas de atoalhados, como se não houvesse amanhã. Partilhei espaços, costumes, tradições e assim tive as primeiras noções de hospitalidade. Daí até à receção de um hotel, foi um passo natural. Ser turista e receber turistas faz parte do meu quotidiano e tornou-se o meu percurso. 

Sou feito desses momentos vividos, de pormenores que para muitos passaram despercebidos (ou talvez não). 
Sou feito de gargalhadas, por vezes sem razão, de pessoas que guardo no coração, de atos ponderados e outros impulsivos, tal como exige a direção de um hotel!
Sou feito de lugares que conheci, de hotéis onde “cresci”, de experiências que vivi e de momentos que jamais esquecerei. 

Todos os dias faço “n” quilómetros dentro da “minha unidade hoteleira”, para que nada falhe. Mas, sou feito de noites mal dormidas, pensando naquilo que fica por fazer e por melhorar...

Algumas vezes desisti, mas nunca sem tentar. Jamais fugi para não enfrentar clientes mais exigentes, mas já sorri muitas vezes para não chorar!…

Tenho saudades de clientes que fui conhecendo, de recordações que não guardei, de amizades que não cultivei… Torna-se muito exigente aferir a qualidade de tudo, minimizar falhas, liderar equipas… Todos os dias contínuo vivendo e aprendendo…

Aprendi que grandes colegas podem-se tornar grandes inimigos… Ou grandes amigos…

Que sozinho não tenho força…
Que ouvir todos é o melhor remédio... 
Que conhecer outros países e outros hotéis ajuda nas boas práticas…
Que a minha família está sempre comigo, quando eu preciso, apesar das inúmeras viagens que me obrigam a tantas ausências... 
Que um cliente satisfeito, faz um diretor realizado…
Que a minha equipa continua a surpreender-me…
Que vou fazer e refazer orçamentos e propostas milhões de vezes… E ainda não vou ter aprendido tudo... 
Que ter o apoio da Administração, independentemente dos resultados alcançados, significa reconhecimento do esforço e dedicação e faz com que não desista…

Cresci entre a receção, a direção de alojamentos e a direção geral. Orgulho-me do “hoteleiro” que fui construindo e do contributo que a minha experiência tem proporcionado nas unidades hoteleiras onde já trabalhei e no meio turístico em geral, nomeadamente na Ilha, onde apesar de ser “cubano” (continental), a dedicação, a iniciativa, a capacidade de comunicação, a mobilização de recursos, o trabalho de equipa, a resiliência e acima de tudo como fui recebido.
Adaptando António Aleixo, um poeta da minha terra:

Ser hoteleiro é uma arte,
“…é uma força imanente,
Não se ensina, não se aprende,
Não se compra, não se vende,
Nasce e morre com a gente”.