Hotéis Lifestyle e o seu rápido crescimento global

Nos últimos anos temos visto um crescimento exponencial no segmento de Hotéis de Lifestyle, a trajetória é claramente ascendente e é notório este “Shift” de pensamento principalmente na era pós-covid (tanto em hotéis como em turistas), onde os Hotéis tiveram de se “repensar” e adaptar a novas circunstancias.

Afonso Magalhães

Nos últimos anos temos visto um crescimento exponencial no segmento de Hotéis de Lifestyle, a trajetória é claramente ascendente e é notório este “Shift” de pensamento principalmente na era pós-covid (tanto em hotéis como em turistas), onde os Hotéis tiveram de se “repensar” e adaptar a novas circunstancias. 

Hotéis Lifestyle são evolução natural dos Hotéis Boutique, são como uma versão melhorada, mais personalizada e com uma maior panóplia de ofertas e atividades. São Hotéis Boutique em esteroides. Não significa que estes não possam coexistir, mas sim que seguramente lutarão pela mesma share de mercado, exigindo um ao outro, a constante inovação e diferenciação.

Este novo segmento de hotéis aposta na experiencia do cliente. O Check-in é um lugar para marcar a diferença com o cliente. O restaurante é um lugar onde o cliente vai ter uma experiencia e não apenas uma refeição. O próprio design do Hotel faz parte da experiência. É neste tipo de Hotéis que o cliente pode por à prova todos os seus sentidos através do “Neuromarketing”. Alguns exemplos (que pomos em prática no Mama Shelter Lisboa):

  • Toque: A escolha dos materiais e das texturas é feita à medida (desde a almofada do quarto até ao sofá do restaurante ou do Lobby);
  • Vista: O Design é super importante, assim como as cores e as luzes;
  • Audição: Músicas de fundo e playlists trabalhadas são formas de criar o ambiente desejado, mesmo nas zonas públicas de um Hotel;
  • Paladar: Ter uma aposta forte na Restauração, seja no Bar, no Rooftop ou no Restaurante do Hotel, é importante que estes outlets tenham vida e personalidade;
  • Cheiro: São colocadas fragrâncias em vários pontos do Hotel para criar uma identidade e uma memória na cabeça do cliente;

Outras vantagens que este tipo de Hotéis oferece é a ligação com ambiente ao seu redor e estar em sintonia com a cultura local. Fazer parcerias com todo o tipo de iniciativas locais, assim como ter atividades in-house numa base regular, como ter uma banda ao vivo todas as semanas a tocar no Rooftop ou Restaurante torna-se em mais um fator diferenciador na escolha por parte do cliente.
Desde 2014 até 2019, o número de quartos de Hotéis Lifestyle em todo o mundo duplicou de 115 mil quartos para 240 mil quartos e é previsto que em 2023 este número seja duplicado novamente. 

Vemos este crescimento inclusive nas maiores Cadeias Hoteleiras a nível Global. Em 2019 a Hyatt lançou um segmento próprio de Lifestyle que contará com marcas como Andaz, Alila, Joie de Vivre Hotels entre outros; A Marriot anunciou o ano passado a abertura de mais 14 mil quartos na sua marca de Lifestyle – Moxy Hotels; A Accor finalizou em 2020 uma joint venture com a Ennismore criando a maior e mais diversificada oferta Lifestyle hoteleira no mundo com marcas como Mama Shelter, The Hoxton, SLS, Joe&Joe, Tribe, Mondrian entre outras.

Quando conseguimos combinar hotéis de Lifestyle, com características como a aposta na experiencia, a inovação, o design, a aposta no F&B, com as “armas” de grandes cadeias como os programas de “Loyalty”, as economias de escala, a consistência e standards de excelência, temos como resultado um produto super diversificado, arrojado, único e pronto para satisfazer qualquer tipo de cliente.

Historicamente, a indústria hoteleira sempre deu muita importância à segmentação dos seus clientes para ajudar a ter uma oferta mais cirúrgica e focada nos vários tipos de mercado. Por outro lado, as motivações dos clientes e turistas também evoluíram e estão cada vez mais diversificadas e fragmentadas e é cada vez mais difícil fazer uma segmentação de tão variados tipos de clientes. Será necessária uma micro-segmentação para que possamos continuar a atingir as expectativas de todos os clientes. E para se chegar a este objetivo é necessário pensar fora da caixa, ser inovador, ser único e procurar novas formas de satisfazer necessidades que antes não existiam. 

Os clientes das novas gerações Y e Z (e mesmo uma grande percentagem da Geração X) procuram cada vez mais um Hotel com vida e com personalidade ao invés do tradicional Hotel “Caixa”, apenas um edifício, sem alma e sem coração.
Um Hotel de Lifestyle promete aventura, diversão, romance, intriga, traição, emoções à flor da pele e uma série de tantos outros sentimentos. É o único sítio, à exceção de filmes de ficção, onde se podem experienciar estas sensações e vivencias. E é cada vez mais por sensações que o cliente se move e faz a sua escolha. 
A maior dificuldade/dilema que este conceito terá, será o seu crescimento exponencial Versus a manutenção da identidade. Como expandir sem perder o que os distingue, o X factor, a atratividade?

Apesar dos Hotéis de Lifestyle estarem a crescer rapidamente em números, chegará seguramente um momento em que a sua oferta, o seu design, as suas experiencias ficarão tão genéricas e standardizadas como as dos Sheratons, Hyatts e Hiltons que estes foram criados para ultrapassar. 

Para prevenir que isto aconteça, estas marcas terão de cultivar pontos de diferenciação, não só entre estas marcas tradicionais, mas também entre elas.

A Hotelaria Lifestyle já ultrapassou a sua fase embrionária e vemos agora um pouco por todo o mundo os seus primeiros passos. Cá estaremos para ver como corre a adolescência e a entrada na maturidade.

Afonso Magalhães
Diretor Comercial Mama Shelter Lisboa