Manel, Joaquim da Praia e a Maria – Uma fábula muitas vezes real.

Na ótica de um investidor, que queira muito se aventurar pelo glorioso mundo da hotelaria, este tem que ter noções básicas daquilo que é verdadeiramente importante para construir um projeto ganhador.

Pedro Costa

Na ótica de um investidor, que queira muito se aventurar pelo glorioso mundo da hotelaria, este tem que ter noções básicas daquilo que é verdadeiramente importante para construir um projeto ganhador.

Não basta ter a melhor localização do mundo. 

Não é suficiente optar por escolher equipamentos esteticamente atraentes e altamente funcionais.

O facto de ter standards operacionais, absolutamente imaculados, pode não bastar.

Ter a melhor equipa do mundo, ajuda imenso, mas pode não chegar para alcançar o sucesso.

Um projeto ganhador terá que ser um mix disto tudo, e, como os recursos financeiros são sempre escassos, há que fazer escolhas, optar pelo nível de investimento que se pretende em cada um destes pilares.

Bom, imaginem lá os nossos queridos leitores a seguinte situação fictícia – um megaprojeto de 500 quartos num destino resort de sol e mar puro e duro, design de topo, tecnologia de ponta, recursos humanos muito capazes mas… a 1300 metros da praia, com um forte leque de concorrentes na babujinha mesmo ali junto ao mar.

Quando questionaram o investidor, vamos chamar-lhe Manel, porquê ali, ele responde com um ar sobranceiro “Pergunta estupida! Paguei um terço pelo terreno do que pagaria na primeira linha!” Hmmm, o Manel deveria mesmo é chamar-se Xico Esperto!

ERRADO Manel! Rapidamente a poupança irá pelo cano abaixo… venderá menos, muito mais barato, o ROI está lá ao fundo muito para trás da linha do horizonte e quando o bom do Manel se aperceber que fez um péssimo negócio e quiser vender, vai muito provavelmente perder muito dinheirinho que o Manel tanto gosta e preza!

O velho Hilton tinha toda a razão!

Bem, mas, “fait atention”, o Manel tem um irmão que se acha muito mais inteligente – o Joaquim da Praia!

O Joaquim da Praia, muito competitivo, apercebendo-se de forma muito consciente da importância da localização, compra o tal terreno três vezes mais caro, junto à praia, ergue ali um outro megaprojeto também com 500 quartos, todos vista mar como manda a lei, lindo de morrer, tecnologicamente ainda mais à frente que o do seu irmão Manel, tudo para dar certo, mas porque já estava um pouco nas lonas ou porque lá no fundo não valoriza assim tanto a importância dos recursos humanos, contrata mão de obra pouco qualificada e muito barata, todos nivelados por baixo…

Rapidamente, o poderosíssimo império dos guests inquires, plasmados em múltiplas plataformas de acesso generalizado, começam a castigar forte e feio o hotel do Joaquim da Praia, a procura desce, o preço desce e o GOP, coitadinho, desaparece…

Felizmente, nesta família de empreendedores existe alguém com juízo, uma irmã mais nova, discreta, ninguém dava nada por ela… a Maria.

 

O que é que a Maria faz? Junta os dois irmãos e propõe-lhes uma sociedade a três, benéfica para todos, propondo-lhes a seguinte estratégia:

Transforma o Hotel do Manel, longe da praia, numa unidade de turismo residencial, apercebendo-se que o destino é suficientemente atraente para a venda de unidades residenciais para um enorme nicho de pessoas que estão ávidas de investir numa segunda habitação de férias em vez de terem dinheiro parado no banco que não rende nada.

Manda fechar uma boa parte dos outlets de F&B do hotel do Manel, pois já não seriam necessários e transfere os magníficos RH para o hotel do Joaquim da Praia.

Inicia um completo programa de RH, treino intenso, premeia e promove os melhores, promove a gestão e a remuneração por objetivos.

No ex-hotel do Manel, as vendas estão a bombar e o dinheirinho finalmente a entrar.

No hotel do Joaquim, o serviço melhorou de imediato, os reviews positivos subiram em flecha, a procura e preço aumentaram e, finalmente, começaram a ter um GOP de respeito!

O Manel, o Joaquim e a Maria viveram felizes para sempre, mas quem manda é mesmo a Maria!