Novos Desafios para o Novo Normal

Nos tempos que correm é transversal a dificuldade em atrair colaboradores para os diversos projectos hoteleiros que vão surgindo neste novo recomeço da hotelaria.

Tomás Potier

Nos tempos que correm é transversal a dificuldade em atrair colaboradores para os diversos projectos hoteleiros que vão surgindo neste novo recomeço da hotelaria. As razões e as explicações são várias, desde layoff ainda ativos, salários baixos para a carga de trabalho, algum medo ainda de apostar nos novos talentos e nos talentos com mais experiência ou a fuga em massa desta geração mais qualificada de sempre para outras indústrias (seja de costumer service ou outras) ou mesmo para o estrangeiro.

Eu próprio quando acabei o meu curso em 2012, fui várias vezes avisado que “não ia dar para todos e que teríamos de ter mente aberta para aceitar que teríamos de emigrar” por professores e colegas de trabalho. E assim foi, primeiro para a Austrália, depois Hong Kong e voltei um pouco antes do início desta pandemia. Quando saí de Portugal em 2013, não era o exercício mais fácil, a procura de emprego. Agora em 2022, são vários os anúncios, são várias as iniciativas para recrutar, são várias as oportunidades mas não são todas preenchidas.

Estamos agora a pagar esta mentalidade algo antiga da hotelaria. Onde havia muita mão de obra, onde se podia fazer uma escolha muito maior e ,como dita o mercado da oferta e procura onde há muita oferta e uma procura reduzida, praticar salários mais baixos e contratos de trabalho precários. Embora tenha muita coisa mudado desde o início da pandemia, este foi um dos aspectos que não mudou e tem tido alguma resistência em mudar. Seja porque os empresários estão ainda com receio (conforme dito em cima), seja que a recuperação ainda não seja sentida em todos os negócios, o que interessa realçar é que cada ameaça gera uma oportunidade. Por isso é que as análises SWOT’s ainda são tão utilizadas nos dias de hoje.

Temos a oportunidade de criar melhores empregos, melhores condições e criar melhores oportunidades para o talento se desenvolver. Temos a oportunidade de transformar a indústria de algo que era instável, onde os contratos efetivos eram uma miragem , de algo onde era difícil construir uma carreira para algo estável e atrativo para os jovens talentos e para os talentos mais experientes ficarem na indústria.

Temos a oportunidade de fazer esta indústria mais segura. Contratos seguros e que dêem segurança aos colaboradores. Porque não “agarrar” o talento com contratos efetivos, talento que foi treinado à maneira do gestor, que têm bastante tempo e dinheiro investido neles(as)? Temos a oportunidade de acabar com os estagiários não remunerados, temos a oportunidade de dar lançar os jovens acabados de sair das escolas e universidades, que vêm com ideias novas, com uma outra perspectiva desta indústria. Temos a oportunidade de acabar com a ideia de que quem trabalha em hotelaria tem e deve trabalhar mais do que as 8 horas diárias para mostrar serviço e usar esse fato como medalha de honra.

É preciso focar na qualidade de vida do staff. É preciso dar a motivação necessária para o desempenho das funções. Hoje em dia somos todos importantes e não tem mal nenhum enquanto patrão mostrar este lado considerado mais sensível (ou seja, mostrar um lado humano muito necessário para liderar numa indústria de humanos) para construir uma equipa. Mais do que procurar a técnica, é importante procurar a personalidade e a atitude. São traços que não se ensinam e que são muito valiosos numa indústria cujo o objectivo é fazer com que os clientes se sintam em casa, que sejam hóspedes na nossa “casa”.

O dinheiro é importante, claro. Mas mais do que pagar bem e justamente às pessoas pelo trabalho (que nem sequer deveria estar a ser discutido pois deveria ser algo adquirido), é necessário respeitar e dar a devida importância às pessoas.

Com tanta oferta e tantos conceitos diferentes, é necessário também começar a formar e a passar a ideia que a hotelaria não é igual em todos os hotéis. Dos tradicionais hotéis aos novos conceitos como o Moxy e Mama Shelter, é importante fazer perceber que o que melhor temos é a nossa personalidade, apenas temos de encontrar a família onde nos encaixamos melhor e não formatar pessoas a uma ideia de hotelaria que já não existe. Porque de verdade, há espaço para todos e nós precisamos de todos para relançar Portugal no mundo da hotelaria e no qual temos indubitavelmente muito valor e valor reconhecido internacionalmente.

Cabe-nos a nós mudar esta mentalidade. Ser líder é isso, potenciar todos os nossos ativos de maneira a obter os melhores resultados possíveis, formar, ensinar, ajudar e compreender. Todos temos importância, todos temos valor e todos somos precisos. E todos juntos vamos vencer este período negro e voltar a tempos “normais”, mas para isso é preciso mudar as mentalidades e dar a devida importância ao lado que realmente importa no mundo da hotelaria, o lado humano.

Tomás Potier