Sem os humanos a palavra gastronomia não teria sentido. É uma palavra tão humana e multifacetada que através dela conseguimos conhecer melhor a cultura a que pertence, e, por isso, se torna tão importante para o turismo. No entanto, sob o signo da Gastronomia estão várias disciplinas e estamos a desperdiçar grandes oportunidades de comunicação, por olharmos enviesadamente, apenas em redor da mesa.
A Alimentação é a atividade de sobrevivência, a par com a respiração, mais repetida ao longo da nossa existência.
Fomos criando hábitos alimentares específicos, quer pela disponibilidade de matéria prima, que o clima permite ao longo do ano, quer por questões religiosas e mesmo só por gostos colectivos que tornam certos produtos numa iguaria para o grupo dos humanos que ocupa determinada área geográfica, fazendo dele e da sua oferta alimentar, únicos.
Destes hábitos não são poucas as novidades que vão sendo introduzidas, também elas "peneiradas" pelos gostos, adaptação ao clima e hábitos desses mesmos humanos, que resultam na evolução gastronómica ao longo dos tempos. É verdade que há culturas mais permeáveis a estas alterações e outras completamente contrárias.
Tal como refiro no início do texto a gastronomia não se esgota no momento da refeição e a perpetuação deste ato enquanto cultura local depende, e muito, do turismo. E o papel deste setor pode ser absolutamente determinante para todas as áreas de que depende, conferindo-lhe sustentabilidade económica e impedindo que se extingam.
Sem querer entrar na discussão do cumprimento de algumas regras que devem regulamentar esta oferta, para minha defesa, devo desde já referir que sou absolutamente a favor de um estudo profundo, para que a regulamentação seja a correcta e defenda os hábitos e não os eroda, mas essa, apesar de fundamental, será outra discussão que não queria puxar agora.
A Gastronomia começa sempre no "mundo rural", berço também, da alimentação para as urbe, que tanto o esquece. Esse "mundo rural" é responsável pela moldagem de muitas paisagens que hoje são património da humanidade, e por isso, fonte de atividade turística. A exploração turística da Gastronomia deveria ter aqui o seu ponto de partida, encontrar o capital humano que o mantém real, e conseguir dar dimensão às especificidades de cada geografia. Na verdade, são pessoas tão autênticas que só o contacto com elas proporciona, a cada visitante, uma experiência única. Depois o aprofundamento de conhecimento acerca dos alimentos, e a experiência de plantar, cuidar, colher ou confecionar o que chega às cidades em embalagens indiferenciadas, passa a ter outro papel, ali e no futuro.