Importância do Turismo gastronómico

Sem os humanos a palavra gastronomia não teria sentido. É uma palavra tão humana e multifacetada que através dela conseguimos conhecer melhor a cultura a que pertence, e, por isso, se torna tão importante para o turismo.

Teresa Vivas

Sem os humanos a palavra gastronomia não teria sentido. É uma palavra tão humana e multifacetada que através dela conseguimos conhecer melhor a cultura a que pertence, e, por isso, se torna tão importante para o turismo. No entanto, sob o signo da Gastronomia estão várias disciplinas e estamos a desperdiçar grandes oportunidades de comunicação, por olharmos enviesadamente, apenas em redor da mesa.

A Alimentação é a atividade de sobrevivência, a par com a respiração, mais repetida ao longo da nossa existência. 

Fomos criando hábitos alimentares específicos, quer pela disponibilidade de matéria prima, que o clima permite ao longo do ano, quer por questões religiosas e mesmo só por gostos colectivos que tornam certos produtos numa iguaria para o grupo dos humanos que ocupa determinada área geográfica, fazendo dele e da sua oferta alimentar, únicos.

Destes hábitos não são poucas as novidades que vão sendo introduzidas, também elas "peneiradas" pelos gostos, adaptação ao clima e hábitos desses mesmos humanos, que resultam na evolução gastronómica ao longo dos tempos. É verdade que há culturas mais permeáveis a estas alterações e outras completamente contrárias. 

Tal como refiro no início do texto a gastronomia não se esgota no momento da refeição e a perpetuação deste ato enquanto cultura local depende, e muito, do turismo. E o papel deste setor pode ser absolutamente determinante para todas as áreas de que depende, conferindo-lhe sustentabilidade económica e impedindo que se extingam. 

Sem querer entrar na discussão do cumprimento de algumas regras que devem regulamentar esta  oferta,  para minha defesa, devo desde já referir que sou absolutamente a favor de um estudo profundo, para que a regulamentação seja a correcta e defenda os hábitos e não os eroda, mas essa, apesar de fundamental, será outra discussão que não queria puxar agora.

A Gastronomia começa sempre no "mundo rural", berço também, da alimentação para as urbe, que tanto o esquece. Esse "mundo rural" é responsável pela moldagem de muitas paisagens que hoje são património da humanidade, e por isso, fonte de atividade turística. A exploração turística da Gastronomia deveria ter aqui o seu ponto de partida, encontrar o capital humano que o mantém real, e conseguir dar dimensão às especificidades de cada geografia. Na verdade, são pessoas tão autênticas que só o contacto com elas proporciona, a cada visitante, uma experiência única. Depois o aprofundamento de conhecimento acerca dos alimentos, e a experiência de plantar, cuidar, colher ou confecionar o que chega às cidades em embalagens indiferenciadas, passa a ter outro papel, ali e no futuro.

Neste género, talvez o enoturismo seja a experiência mais próxima do que aqui gostaria de falar, mas no caso, o contacto com o "mundo rural" é muito mais abrangente e potencialmente muito mais enriquecedor.

Apesar de existirem vários formatos, alguns deles até encenados, lembro que o contacto humano é o que mais diferencia a visita e estimula a curiosidade, o conforto e a memória posterior. É também neste "mundo rural" que as estações do ano e gastronomia a ele associadas, são mais vincadas, podendo, em cada mês ser experienciado algo de diferente. Também ligado à sazonalidade, estão as festas populares, e seus hábitos alimentares, existe uma riqueza imensa, que pode, e deve, ser explorada, não só porque turisticamente é interessante, como ajuda a manter e melhorar de forma sustentável, o conjunto destes hábitos que resultam na gastronomia de cada população. 

As experiências de confecionar, culinariamente, o produto para serviço à mesa, fica assim mais valorizado, mas para um público que se pretende mais exigente e informado. Esta será a segunda parte da possível exploração da experiência gastronómica. Quer seja "guiada" por profissionais, autores, quer seja junto daqueles cujo objetivo é manter o seu receituário e tradição, mesmo em casa de agricultores que cozinham a sua  própria produção.

A mesa de refeição é um local e momento de partilha mas cada mesa deve ser única. Seja pela envolvência mais erudita de um local mais luxuoso, seja pela experiência de comer numa sala que é igualmente o fumeiro da casa, ou o palheiro onde se conservam os alimentos, ou numa salina, perto da natureza. 

Todos estes momentos devem ser motivo de uma memória gastronómica única, que pode e deve incluir o "mundo rural", o turismo deve contribuir para o aprofundamento desta relação. E não é um turismo menor, é sem dúvida, uma alavanca que deve ajudar Portugal a fazer uma ponte efetiva entre as zonas rurais e urbanas, que deve ajudar a esbater este grande desequilíbrio que é a desertificação e envelhecimento  da população que produz de forma mais sustentável. 

Portugal ainda não está a retirar deste diamante em bruto que temos, o que poderíamos retirará. Na outra face da moeda, não está a retribuir como poderia estar, apoiando a manter as tradições que enaltecem o que somos.

 

Teresa Vivas

Activista à Mesa – Cultura Gastronómica