O novo luxo na hotelaria: não é mármore, é intencionalidade

Durante anos vendemos luxo aos hóspedes como se fosse um espetáculo de pirotecnia: lobbies com lustres de cinco metros, mármores importados, amenities em embalagens douradas que ninguém usava. E, sejamos honestos, funcionou… durante um tempo.

Catarina Varão

Durante anos vendemos luxo aos hóspedes como se fosse um espetáculo de pirotecnia: lobbies com lustres de cinco metros, mármores importados, amenities em embalagens douradas que ninguém usava. E, sejamos honestos, funcionou… durante um tempo.

Mas o hóspede de hoje já não se deixa enganar pelo brilho. Ele não quer sentir-se (só) num palco da Broadway, quer sentir-se em casa — numa versão melhorada, claro. O novo luxo é silencioso, intencional. 

Está na cama que o faz dormir melhor do que em casa. No corredor que respira calma em vez de ecoar mala com rodinhas. No prato que não só serve comida, mas conta uma história. E no quão verdadeiro se vive o wellness que se promove, manifestado no estado de espírito dos colaboradores.

E sim, aqui entram os candeeiros, as peças de arte, mas também e essencialmente a loiça e a porcelana. Quem acha que são apenas “pratos bonitos” está a perder metade do jogo. A mesa é o coração da hospitalidade, e bons cafés e restaurantes instagramáveis já entenderam isso há muito tempo. Um prato bem escolhido não é detalhe: é narrativa. É design que se toca. É sustentabilidade que se sente. É a prova de que o hotel pensou em tudo, até no que o hóspede segura na mão enquanto prova o petit-déjeuner.

O novo luxo: tempo bem vivido

Mais do que objetos, o luxo de hoje chama-se tempo. Tempo de qualidade, sem pressas. O hóspede contemporâneo não quer só um check-in eficiente, quer um intervalo de vida que faça sentido. Quer espaços que inspirem a respirar fundo, experiências que o façam aprender, refeições que mereçam ser lembradas. Quer uma estadia que não seja um parêntesis, mas um ponto de exclamação.

E aqui entra a chamada hotelaria criativa: aquela que é viva, que cuida, que envolve colaboradores e hóspedes numa mesma vibração. Não se trata apenas de decoração bonita, mas de ambientes que realmente se vivem — nos detalhes da mesa, na programação de actividades, no sorriso genuíno de quem serve. Hospedar, afinal, é muito mais do que abrir portas: é ensinar outro estilo de vida.

E nós, profissionais?

Se tudo isto soa exigente, é porque é mesmo. Já não basta ter um hotel bonito ou um restaurante bem montado. O hóspede de hoje é curioso, inquieto, selectivo. Para corresponder, precisamos de mais do que bom gosto: precisamos de formação, sensibilidade e pensamento crítico. Precisamos de compreender o design como ferramenta estratégica, e não apenas como um investimento de decoração. 

É exatamente por isso que a th2 lançou a formação de Interiorismo & Design em Hotelaria. Não é uma lista de tendências passageiras. É um mergulho profundo em como desenhar experiências que ficam, espaços que cuidam, e mesas que contam histórias (sim, até através da porcelana certa). É a representação do que é a hospitalidade expressa na decoração. 

O futuro da hotelaria não vai premiar quem tiver mais brilho, mas quem souber melhor manifestar essa intencionalidade. Quem souber que um prato que mais que o logotipo da marca de cafés ou da coca-cola fala tão alto quanto uma suite bem desenhada. Quem entender que o verdadeiro luxo é simples, pensado, duradouro. 

Porque no fim, sejamos francos: o hóspede pode até não se lembrar do nome do hotel. Mas vai lembrar-se de como se sentiu. E essa, caros colegas, é a hospitalidade que perdura.