Portugal é, há muito, uma referência no setor do turismo. E a nossa pequena ilha, a Madeira, tem sabido destacar-se nesse palco mundial, arrecadando prémios internacionais, cativando pela sua autenticidade e mantendo-se firme como um dos destinos mais procurados. Acresce ainda o facto de sermos o 7.º país mais seguro do mundo, um trunfo raro e precioso nos dias que correm.
O turismo representa cerca de 20% do nosso PIB e garante mais de 1,1 milhões de postos de trabalho diretos. Os nossos hotéis, restaurantes e experiências encantam quem nos visita e fazem-nos sentir, com justiça, orgulhosos do que somos e do que oferecemos.
Mas por detrás deste sucesso, há um desafio cada vez mais evidente que já não podemos ignorar, a dificuldade em atrair e reter talento para trabalhar na hotelaria.
Apesar de tudo o que evoluímos em termos de qualidade, inovação e reconhecimento, a hotelaria continua a ser vista, por muitos, como uma profissão exigente, pouco valorizada e mal remunerada. E os números não mentem:
- A remuneração média ronda os €1 200, apenas ligeiramente acima do salário mínimo,
- Mais de 70% dos profissionais admitem sentir-se física e emocionalmente esgotados,
- A rotatividade entre os mais jovens continua elevada, revelando falta de atratividade e ausência de perspetiva de futuro.
Este cenário torna-se ainda mais preocupante quando olhamos para as expectativas das novas gerações, que procuram muito mais do que um emprego, querem propósito, equilíbrio, reconhecimento e oportunidade de crescer. E a verdade é que, apesar de tudo o que este setor tem para dar, nem sempre consegue corresponder.
Ainda assim, tenho a forte convicção de que a hotelaria tem um potencial transformador único. É uma das poucas áreas onde se aprende de tudo, empatia, comunicação, liderança, resiliência, trabalho em equipa e técnica. Uma verdadeira escola de competências para a vida.
Se queremos garantir um futuro forte e sustentável para a nossa hotelaria, temos de começar dentro de cada equipa. Temos de apostar numa formação contínua, prática, adaptada ao mundo atual, oferecer condições de trabalho dignas, com horários equilibrados e reconhecimento, e, sobretudo, valorizar e comunicar que trabalhar na hotelaria é muito mais do que “servir”, é liderar experiências com alma, autenticidade e impacto.
É tempo de garantir que a felicidade que vendemos aos nossos clientes seja também possível para quem trabalha connosco. Quem dedica os seus dias a criar memórias felizes, merece também construir uma história profissional com dignidade, orgulho e sentido.