Enovação

Não é novidade dizer que a inovação é um conceito desafiante, e que muitas empresas procuram integrá-la nas suas rotinas de gestão, liderança, monitorização e desenvolvimento. Inovar exige mudanças, e as mudanças exigem tempo e coordenação de equipas, testes, previsões e, claro, a disposição de correr riscos.
E aqui entra o paradoxo entre querer arriscar sem correr riscos. Ambíguo, não é?

Catarina Alves Ribeiro

Não é novidade dizer que a inovação é um conceito desafiante, e que muitas empresas procuram integrá-la nas suas rotinas de gestão, liderança, monitorização e desenvolvimento. Inovar exige mudanças, e as mudanças exigem tempo e coordenação de equipas, testes, previsões e, claro, a disposição de correr riscos.
E aqui entra o paradoxo entre querer arriscar sem correr riscos. Ambíguo, não é?

Sendo o turismo um dos setores mais relevantes para a economia de Portugal, é crucial investir fortemente em inovação para garantir um impacto crescente e positivo a nível nacional e internacional, permitindo impulsionar a percepção e a experiência dos turistas de forma sustentável e equilibrada, mantendo a essência e a autenticidade do nosso País.

Várias entidades turísticas em Portugal, incluindo o Turismo de Portugal, têm vindo a fazer grandes esforços para promover a inovação no setor, mas como se pode inovar sem correr muitos riscos?

A previsão e compreensão sobre o comportamento do consumidor em relação a determinadas ações de marketing, faz parte do dia a dia de um laboratório de Neuromarketing. Nestes laboratórios, as neurociências e o recurso às tecnologias neurocientíficas ajudam a encontrar respostas sobre o cérebro humano e como é que este reage e responde aos estímulos que as marcas lhes expõem diariamente através de publicidade e campanhas de comunicação.

Ao analisar os níveis de atenção, envolvimento, memória, emoções, valência e recompensa como resposta a esses estímulos, é possível prever como é que a população pode responder a estímulos iguais ou semelhantes no futuro, reduzindo significativamente os riscos associados ao lançamento de novas campanhas, marcas, serviços, produtos ou experiências.

Se assim é, recorrer às neurociências poderá ser visto como uma forma de inovação sem riscos, uma vez que nos permite prever a resposta comportamental do cliente e assim criar experiências mais envolventes, mais memoráveis e mais impactantes, retirando o risco de não serem bem interpretados, percepcionados ou reconhecidos pelos turistas.

Reconhecer e identificar que neurotransmissores são segregados e que respostas emocionais desencadeiam na presença de estímulos como a luminosidade, as cores e fragrâncias, são insights valiosos para criar ambientes mais confortáveis e acolhedores nos hotéis, promovendo uma sensação de bem-estar desde a entrada no Lobby até ao próprio quarto.

Os estudos neurocientíficos permitem-nos também formar e capacitar as equipas dos hotéis a reconhecer e adequar o seu discurso e sugestão de serviços mediante as necessidades emocionais dos clientes.

Se entrarmos no universo da restauração, as neurociências têm também mesa marcada. Podem ser úteis para compreender as preferências alimentares e as respostas emocionais às diferentes ofertas gastronómicas, permitindo que os restaurantes criem experiências mais impactantes e memoráveis que vão desde a perceção sobre o sabor através da simples forma como o prato é apresentado ao cliente, aos pormenores do menu que são mais salientes e levam o cliente a tomar a decisão sobre determinado prato.

No universo dos vinhos, o neuromarketing e as neurociências também têm muito para oferecer.

Fatores como o ambiente e o contexto da degustação do vinho, a apresentação e o local onde o vinho é servido, podem ser analisados para compreender as respostas emocionais e a percepção do sabor. Estes dados podem ser bastante úteis para as empresas de enoturismo, ajudando-as a ajustar as suas experiências para torná-las mais envolventes e personalizadas ao cliente.

Também para produtores, o recurso às neurociências pode ser um passo inovador e de risco reduzido uma vez que permite compreender melhor como é que as diferentes características do vinho como o aroma, corpo e sabor são percepcionados pelo cérebro humano. Esta compreensão pode levar a uma produção de vinho com níveis de acidez e taninos mais adequados ao objetivo do produtor e à experiência sensorial do cliente, tornando-a mais agradável e memorável pelas respostas emocionais imediatas que são geradas durante a degustação.

Seria um caso de enovação!