Os Maestros da Excelência

Recebo este amável convite por parte da REDE T, dias depois de ter sido servida por um Robô, num restaurante em Lisboa.

Vera Pereira

Recebo este amável convite por parte da REDE T, dias depois de ter sido servida por um Robô, num restaurante em Lisboa.

Voltei a pensar neste impacto da Inteligência Artificial na experiência do cliente e qual o seu lugar neste Universo da Hospitalidade.

Muito se tem falado e escrito sobre a transformação digital na Hotelaria. É um facto que a inovação tecnologia está a elevar para outro patamar as práticas de gestão e de serviço da hospitalidade. Temos hoje à nossa disposição, plataformas, que em pouco tempo nos dão informação, nos dão dados úteis que contribuem para a tomada de decisão.

Customer centricity é o foco. E a tecnologia dá-nos isso, ajuda-nos a perceber o nosso cliente. Dá-nos o tão desejado data – do preço, da reputação, dos competidores, da experiência e da qualidade.

Mas a tecnologia também nos leva para outro campo, o do medo.

Por várias vezes me têm perguntado se os Robôs irão substituir os profissionais da Hospitalidade; os cozinheiros, os copeiros, os empregados de mesa, os rececionistas…. 

Prefiro falar em evolução e não substituição, numa perspetiva em que todo o trabalho que possa ser feito por computador, acrescenta valor. Concordo na aposta em soluções tenológicas na recolha de dados. Mas e sermos servidos por um Robô?

Acredito que há espaço para os Robôs, porque há espaço para experiências diferentes. 

Recordo-me de uma conversa com um Diretor Hoteleiro me dizia: “quando me desloco em trabalho, quero o meu check in rápido e normalmente faço as refeições no quarto. Mas quando vou com a minha família a minha espectativa é que todos saibam qual é a sobremesa preferida do meu filho, procuro a atenção ao detalhe, sou exigente no serviço, quero qualidade e excelência”.

É aqui, na qualidade, que está a essência humana. Porque a qualidade é o cuidado, é paixão, é persistência, é contacto visual é a reação.

A verdade é que por mais perfeita que seja a tecnologia, o Robô não nos acrescenta a qualidade, porque a experiência humana, a visão humana é a única coisa que pode fazer a qualidade melhor ou pior.

Há pouco tempo li uma entrevista, também a um diretor de Hotel, que dizia que gerir um hotel era muito semelhante a gerir uma orquestra. Que genuína esta comparação da arte com a hospitalidade. É isso que somos, nós os profissionais da Hotelaria e do Turismo: Maestros.

É certo que podemos ter vários mecanismos para garantir e controlar a qualidade, mas estes só funcionam se tivermos os Maestros (os profissionais da hospitalidade – a todos os níveis) , a viver  a mensagem da qualidade com  paixão;  só funcionam se os Maestros ( os profissionais da hospitalidade – a todos os níveis) compreenderem que, independentemente da evolução tecnológica, a qualidade vem das pessoas que se importam e se empenham no seu trabalho.

A estes Maestros o desafio é grande: estar à altura da evolução da ciência preparados para a inovação, ao mesmo tempo garantir um serviço de excelência, este serviço de qualidade centrado nas pessoas, porque “ We are Ladies and Gentlemen serving Ladies and Gentlemen”, dizia-nos há quatro décadas Horst Schulze.

Vera Pereira
Responsável pela Formação & Desenvolvimento do Grupo PortoBay Hotels & Resorts
Professora no Instituto Superior de Lisboa e Vale do Tejo – ISCE
Orientadora Profissional na Escola de Comércio de Lisboa