Vamos ajudar a restaurar a confiança

No início de março de 2020, o mundo foi surpreendido com a propagação de um vírus e a declaração de uma pandemia que levou a que a generalidade dos países e economias do mundo decretassem estados de emergência e confinamento, suspendendo grande parte das atividades económicas.

Gonçalo Rebelo de Almeida

No início de março de 2020, o mundo foi surpreendido com a propagação de um vírus e a declaração de uma pandemia que levou a que a generalidade dos países e economias do mundo decretassem estados de emergência e confinamento, suspendendo grande parte das atividades económicas.

Perante o desconhecimento dos efeitos do vírus em termos de taxas de propagação da doença e taxas de mortalidade e a falta de preparação natural dos serviços de saúde e à luz do conhecimento na altura, esta terá sido provavelmente a medida acertada.

O objetivo era dar tempo para adquirir conhecimento sobre a doença e preparar devidamente a capacidade de resposta dos serviços de saúde e no limite preparar as populações para lidarem e conviverem com este novo vírus.

Talvez devido a um misto de esperança e expectativa natural no ser humano, foi criada a convicção de que talvez por milagre o vírus desaparecesse naturalmente ao fim de 3 ou 4 meses e o mundo e a economia poderiam retomar uma suposta normalidade.

Os governos criaram mecanismos de apoio à economia e às empresas baseados nestes pressupostos, desenvolvendo linhas de crédito e moratórias que permitissem ajudar as necessidades imediatas da tesouraria das empresas que, entretanto, tinham perdido todas as receitas. Adicionalmente procurou-se ajudar as empresas apoiando o pagamento de salários durante o período de inatividade.

À data em que escrevo este artigo (Outubro de 2020) e decorridos 7 meses desde o inicio da pandemia, podemos constatar que o vírus não desapareceu nem temos qualquer certeza ou horizonte temporal que nos permita afirmar que tal vai acontecer, e o regresso à situação pré-covid tarda em dar sinais.

Embora mantenha a esperança no aparecimento de uma vacina ou tratamento, confesso que neste momento não vejo outra opção que não seja aprender a viver com este vírus, respeitando as normas de higiene e distanciamento instituídas e desta forma manter o controlo sobre a situação epidemiológica.

O setor do turismo foi e será durante os próximos tempos um dos setores mais afetados por esta situação, pois na sua essência está a circulação de pessoas e o contacto social e neste momento, para além das inúmeras limitações e restrições às viagens impostas por vários estados, permanece um clima de insegurança e falta de confiança do consumidor.

O dramatismo habitual dos media, os avanços e recuos da situação epidemiológica, as constantes opiniões contraditórias e desarticulação das regras da união europeia em nada contribuem para restaurar essa confiança que é essencial para o regresso da atividade turística.

Parece-me também que os novos pacotes de medidas que dão apoio às empresas com maiores quedas na faturação em função da redução dos tempos de trabalho, podem ser um incentivo à inatividade e como tal contraditório com o regresso que se pretende que aconteça em breve.

Considero que o caminho da retoma passará por manter as empresas e os seus colaboradores no ativo, trabalhando em novos modelos de negócio, desenvolvendo novas ideias, melhorando processos, adquirindo novos conhecimentos através da formação, de modo a que no regresso seja possível ter melhores empresas e colaboradores mais qualificados.

O incentivo a ficar em casa e a encerrar atividades, conduzirá a que as equipas percam o dinamismo, a criatividade, a interligação e pode trazer danos psicológicos consideráveis.

Por outro lado, todos sabemos que as infra-estruturas e equipamentos se começam a degradar lentamente se não estiverem em operação.

Mesmo sabendo que a procura nos próximos meses será baixa, não nos adianta nada cruzar os braços e ficar à espera que passe esta situação, sob pena de pormos em causa muitas das empresas do nosso setor.
Temos que ajudar a restaurar a confiança, mostrando dinamismo e inovação, explicando que se pode continuar a fazer viagens de lazer ou negócios em segurança, que é possível realizar eventos cumprindo todas as regras e provando mais uma vez que o setor do turismo é resiliente e capaz de enfrentar este que é, talvez, o maior desafio da nossa geração.

Gonçalo Rebelo de Almeida

Administrador

Vila Galé Hotéis