Postado em segunda-feira, 7 de julho de 2025 08:34

O HOTEL DAS SIMPATIAS

Abro a janela do quarto e o meu olhar desperta-se no azul das águas, no branco das areias finas de praias infinitas e no verde da Reserva Natural da Arrábida. A luz é permanente. Uma vasta península faz parte do início da história do turismo português no final do Estado Novo e tem um dos sítios notáveis da arqueologia portuguesa. Em 1866, o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen referiu-a como “Pompeia de Setúbal” no seu escrito “Uma Visita a Portugal”. Por tudo isto, estou no Tróia Design Hotel, uma unidade hoteleira contemporânea de 5 estrelas (HA) inaugurada em 3 de julho de 2009, em que o ambiente é sofisticado e aconchegante, do qual a arquitetura faz a sua parte, no todo e em cada pormenor. Cheguei de “ferry”. Ao longe, Tróia parece uma ilha e o hotel um farol que de noite se ilumina de todas as cores.

“Obrigado pela sua simpatia”, disse Nuno Melo. Eu nunca tinha ouvido esta frase dita por um colaborador de um outro hotel. Depois de percorrer os diferentes espaços do Blue & Green Spa, neste que já foi considerado o “Melhor Spa de Hotel de Luxo” pelos World Luxury Spa Awards, recebi em troca aquela frase tão gentil e genuína da parte do fisioterapeuta. Desde esse momento, ficou traçado o subtítulo deste texto.

A gentileza foi um traço comum de todos os colaboradores que me acolheram com afabilidade e sorrisos, como, por exemplo, Simplício Louro, chefe do restaurante e bar; Diana Tamásio, empregada de mesa ao pequeno-almoço; Paola Santos, a servir no Paprika Pool Bar; Maria Inês Santos, empregada de mesa ao jantar; Afonso Silva, subchefe da receção, e Inês Mendes, estagiária nessa mesma função; e Ricardo Pereira, bagageiro de serviço. Estes e os demais colaboradores são superiormente orientados pelo diretor-geral Victor Cópio, que me fez uma visita guiada ao empreendimento, assim como demonstrou capacidade de gestão para um hotel com estas características, referindo que “a grande mais valia é a equipa, com uma boa mescla de colaboradores seniores e gente nova, com pessoas da minha confiança em áreas fulcrais.” E conta que o hotel requer de si “várias deslocações ao longo do dia, na supervisão que faço, supervisão da limpeza, na arrumação, no alinhamento do restaurante, tudo isto tem impacto no final do dia. Cria-se uma cultura de atenção ao detalhe.”

A cultura de detalhe é um conceito que enfatiza o cuidado em diversos contextos, implicando uma abordagem meticulosa e uma atenção às menores nuances, reconhecendo que esse olhar pode ser crucial para o sucesso e a qualidade de um projeto, produto ou serviço. Ela envolve uma filosofia de trabalho que valoriza a atenção, a precisão e a qualidade que, em conjunto, contribuem para o resultado. Na produção de bens e serviços, deve-se garantir que o produto ou o serviço atenda às expectativas do cliente e que seja livre de defeitos. A ideia que transmite é a de que o diretor-geral Victor Cópio pretende que este rigor faça parte no ADN dos colaboradores e esteja presente em todas as fases do processo hoteleiro, nas quais a tensão tende a ser reduzida e os desafios são ultrapassados de uma forma positiva e construtiva.

No 1112 – o quarto que me coube –, o pormenor da presença dos bolinhos e do vinho moscatel de Setúbal da produção de Venâncio Costa Lima adoçou a boca.

No átrio de entrada há uma obra de arte que nos faz parar nas retas e nas ondas escritas por traços de marcador. A autora é Lúcia Prancha, com estudos em Lisboa, São Paulo e Estados Unidos da América, já expondo em diferentes partes do mundo. A moldura é de alumínio relevado, tal como muitas das paredes do hotel.

Além da arquitetura, congregou-se, neste hotel, uma coleção de obras de arte contemporânea, que o curador Miguel von Haff e Pérez escolheu entre jovens artistas, em fotografia, desenho e pintura, expressas também em livro. O quadro exposto no apartamento que me coube é de Pedro Falcão, designer, pintor (e caldense, como eu), que criou este trabalho em azul e preto, proveniente de uma série de 4 de dípticos (série 2367, 2002-2003), em tinta de água sobre tela, onde um plano de cor se confronta com um detalhe de uma letra. É sob esse detalhe que a noite transpira ou se tranquiliza, no luxo de se estar sob uma obra pensada e concebida por um artista. Se eu pensar que, em casa, também é assim, afinal o que muda?

A Amorim Turismo encomendou 16 pinturas a Pedro Cabrita Reis, que podem ser vistas no restaurante Blue & Green e pontuam cada recanto e a parede principal, em frente da qual nos registámos para a posteridade. Na época, o promotor também comprou duas peças ao escultor Carlos Henrich, destinadas ao átrio do casino. Por fim, ninguém fica alheio à gigantesca sandália “Cinderela” (2007), de Joana Vasconcelos, feita com centena e meia de panelas em inox e respetivos testos, tendo 2,70 metros de altura por 4,30 metros de comprimento, no grande fosso de galerias com varandas envidraçadas e espelhadas.

A arte está por todo o lado, designadamente, pela cerâmica decorativa da italiana Rina Menardi. Esta autora revela que o barro se torna um instrumento de revelação da consciência na história da vida. A sua obra é feita com base em muitos anos de pesquisa na área de cor e no desenvolvimento de técnicas alternativas de trabalho, mas sempre manuais. A intenção de Rina é que o objeto não se imponha, mas sugira sensações, tanto visuais quanto táteis, capazes de evocar as emoções mais profundas. É o instinto que prevalece em relação racional na obra desta artista, cujos objetos neste hotel exprimem delicadeza e convocam sentimentos.

Sentimentos preenchem os corações de muitos portugueses, que se lembram de outros tempos nesta península. Muitos ainda não esquecem o ambiente animado de outros tempos, a orla de praia movimentada, a bola da Nívea como ponto de encontro, a piscina de água salgada com grandes dimensões, as pranchas de saltos e o parque de campismo.

Reza a história que o complexo de Tróia foi lançado como um grande investimento para se atingir um complexo moderno para descansar a camada média-alta em Portugal, mas com uma política social associada, desde logo pelo grande refeitório para 3 000 trabalhadores e pelas casas a eles destinadas. As praias eram areais extensos e solitários. O turismo era considerado uma indústria patriótica, assim apresentado por influentes empresários portugueses, quando, na época, as férias eram consideradas um privilégio.

A partir do momento em que foi construída a ponte Salazar acreditou-se que o fluxo de população para a margem Sul iria subir, portanto, faria sentido aproveitar Tróia para uma zona de turismo.

As origens remontam ao investimento da Soltroia – Sociedade Imobiliária de Urbanização e Turismo de Troia, no início da década de 1960, e a um primeiro anteplano, reprovado pelo Governo, mas que antecede outros mais. Um novo estudo foi homologado em 1963, coordenado pelo arquiteto Francisco Keil do Amaral e intitulado “Bases urbanísticas para a criação de um centro turístico em Troia”, onde se defende a dispersão da construção segundo um modelo de baixa densidade e altura e se definem diferentes células de ocupação e tipos de ocupação turística, organizados a partir de um eixo viário principal, cuja construção seria faseada. A este plano, seguiu-se o “Plano de Desenvolvimento Urbanístico da Península de Tróia” (1964-1965), coordenado pelo arquiteto João Andresen (Gabinete Técnico da Soltroia), que optou por uma ocupação concentrada, favorecendo o desenvolvimento vertical, de modo a obter a rentabilização do investimento e uma otimização dos recursos naturais do território.

O empreendimento da Torralta – Club Internacional de Férias, S.A. foi promovido pelos irmãos Agostinho da Silva e José da Silva, imbuídos numa visão de futuro para o turismo português, com base no conceito de direito real de habitação periódica e no capitalismo popular, ao captarem 27 000 acionistas atraídos pela promessa de um juro de 10%, mais 3% do que oferecido pelos bancos. Foi um projeto turístico revolucionário para a época, com clube hípico, marina e centro de estudos oceanográficos. Constituída em 1967, a Torralta investiu em Alvor e pretendia fazer o mesmo em Tróia.

Numa parceria entre a Soltroia, a Torralta e a Trabalhos de Arquitectura e Construção de Conceição Silva, a Sociedade Turística Ponta do Adoxe (1969) avançou com o Plano de Urbanização da Ponta do Adoxe (1970-1973) e o Plano de Urbanização da Península de Troia (1973-1974), os quais propõem a redução da capacidade de 30 000 utentes, previstos anteriormente, para 8 000 utentes, centralizando as construções na zona Norte da península: torres e apartamentos em banda, apoiados por uma rede de equipamentos de restauração e diversão noturna (discoteca), desportivos (campos de ténis e de futebol, campo de golfe, centro hípico e piscina oceânica) e de cultura e espetáculos (museu e centro de congressos).

Propiciar uma boa ligação a Tróia seria muito importante. A viagem inaugural de ligação entre Setúbal e Tróia em “hovercraft” realizou-se a 7 de julho de 1971, com a presença do presidente da República e dos ministros da Marinha, Finanças e Obras Públicas, os secretários de Estado da Informação e Turismo da Indústria e do Comércio e do diretor-geral do Turismo. “Torralta” foi o nome escolhido pela Sociedade Turística Ponta do Adoxe para esta primeira embarcação, uma das quatro construídas pela britânica Hovermarine, Limited, sediada em Woolston, Southampton: “Torralta”, “Soltroia”, “Troiamar” e “Troiano”. A publicidade da época referia que “no inverno da cidade do rio azul um hovercraft leva-o para férias”.

O modelo de negócio passava pelo “time-sharing”, inovador em Portugal, atraindo pequenos acionistas, com condições de retorno financeiro atrativas e o direito real de preferência de habitação periódica.

Era um “Portugal moderno” que se antevia. Enquadrado, ainda, pela política de fomento do III e IV Plano, o desenvolvimento do turismo no início da década de 1970 processou-se dentro do espírito da década anterior e foi consubstanciado numa carta de ordenamento à escala nacional (1971). Contudo, a grave crise energética, que abalou o mundo em 1973 e detonada pelas reivindicações dos países árabes produtores de petróleo, desferiu um rude golpe no sector turístico, que viu decrescer muito a sua atividade.

A partir do golpe militar de 1974, a Torralta entrou em processo de falência. Tudo foi posto em causa e foram encontradas irregularidades nas contas da empresa. Com a alteração do ambiente político, eventuais investidores consideraram o projeto existente obsoleto, acabando por ser necessária a intervenção do Estado.

O Processo Revolucionário afastou, temporariamente, a procura turística internacional e criou três problemas na oferta do turismo. O Estado decidiu intervir em empresas que não nacionaliza, suspendendo os corpos sociais, nomeando gestores públicos para as gerir e concedendo aval do Estado a sucessivos financiamentos pela banca nacionalizada, assim como se confrontou com o do destino a dar aos hotéis e grupos empresariais sob a intervenção do Estado. Com a fuga da maior parte dos investidores e capitalistas, as estruturas existentes foram aproveitadas por classe média e média baixa (hotéis, apartamentos, bares e piscinas). O público, em geral, passou a ir em massa para Tróia. Porém, foi uma questão de tempo, até que as propriedades voltassem a ser entregues aos antigos donos (1978). Só que o país tinha mudado.

O mundo de Tróia acabou por se revelar um investimento desastroso para milhares de pequenos investidores que acreditaram na viabilidade do empreendimento, devido a problemas de gestão. A Torralta foi devolvida, pelo primeiro governo constitucional, liderado por Mário Soares, aos antigos proprietários que, posteriormente, a venderam à Lactogal, mas a situação económica não melhorou e a empresa acabou por entrar em falência técnica.

Os grandes projetos de reabilitação para Tróia viriam a recuperar, gradualmente, o complexo turístico. Em 1980, o Troia Golf Championship Resort foi inaugurado, desenhado pelo arquiteto norte-americano Robert Trent Jones. Em 1993, a Torralta iniciou um processo de recuperação de falência que se prolongou até 1997, data em que o Grupo SONAE, do empresário Belmiro de Azevedo, adquiriu os créditos do Estado sobre a Torralta para construir um “projeto europeu”. Em 2000, foi garantido o acordo (Resolução de Ministros n.º 22/2000). O grupo SONAE juntou-se aos investidores Soltroia e Grupo Pestana e os três avançaram para a elaboração do Plano de Urbanização de Tróia, com o município de Grândola.

A 27 de janeiro de 2003, o tabuleiro inferior da Ponte 25 de Abril permitiu a abertura ao tráfego ferroviário, em via dupla entre Lisboa e a margem Sul, ligando a Península de Setúbal ao Algarve. Nesse mesmo ano, o Grupo SONAE criou uma parceria com o Grupo Amorim, para a construção e gestão do Casino, do Tróia Design Hotel e do Centro de Congressos. Para prosseguir com o complexo turístico, em setembro de 2005, deu-se a implosão de duas das seis torres. Desde o modelo de construção antigo para o atual verificaram-se alterações ao nível dos planos de ordenamento do território e de urbanismo. Esta operação foi o exemplo de um conjunto integrado com características de baixa densidade. A 8 de setembro de 2008, o Tróia Resort foi inaugurado, formalmente. Era o fim da Torralta, o projeto de “capitalismo popular” que foi financiado por 35 000 pequenos acionistas e que chegou a operar um dos maiores complexos turísticos de sempre em Portugal.

Presentemente, a península de Troia é um dos mais belos espaços verdes do litoral atlântico ibérico. A situação geográfica, o ecossistema dominante influenciado pelo estuário do rio Sado, o clima mediterrânico e o ambiente sereno de saudável tranquilidade e aberto ao sol, amplo e arejado, configuram um quadro de atividade turística de grande importância na economia nacional, apostando na qualidade e voltado, presentemente, para os mercados emissores, com bom poder de compra no Turismo Residencial, MICE (Meeting, Incentive and Congress), Turismo Desportivo, Jogo, Turismo Náutico e Turismo da Natureza. Os projetos turísticos diversificaram a oferta com o golfe, os eventos empresariais e o centro de estágios de desporto. Já não se sente uma época baixa tão prolongada como dantes. Por outro lado, muitos dos residentes não habituais estrangeiros têm preferência pelos meses de época baixa.

Neste contexto, a remodelação do edifício do Tróia Design Hotel partiu da estrutura principal com mais de meio século, proveniente do projeto do ateliê Conceição Silva, do qual restou, além de uma série de instalações dispersas, o corpo principal com um átrio com 15 pisos. A fachada principal do hotel cresceu para a frente, com vista para Setúbal e para a marina, ganhando apartamentos maiores e uma fachada mais contemporânea, da autoria do ateliê Promontório Arquitectos, que fez toda a remodelação do edifício (2005-2009). O Tróia Design Hotel resulta, em primeira mão, de um investimento da Amorim Turismo (156 milhões de euros), incluindo a licença de jogo no Casino e o Centro de Congressos.

O novo projeto hoteleiro seguiu os princípios de desenho originais, contrapostos pelos novos gestos, particularmente a ala ondulada de apartamentos voltada para o Norte, com vidros curvos, “o que cria um contraste decisivo, tanto no material, quanto na forma com a nudez seca e estrutural do edifício inicial”, segundo os arquitetos. Em contacto visual com esta fachada, a marina domina a grande enseada e é um espaço amplo e seguro de acesso direto ao Atlântico. Possui 184 postos de amarração, com condições de acessibilidade ímpares, acessível a embarcações de recreio até 18 metros de comprimento, dotados de uma completa gama de serviços de apoio técnico e logístico, uma zona residencial e uma zona de restauração e de compras.

O apartamento que me coube é vasto, a sala de um lado e quarto do outro. A uni-los, há duas instalações sanitárias e um bloco com banheira, duche e lavatório, numa subdivisão com paredes de vidro, para que o hóspede nunca se prive da vista e no momento oportuno faça parte do quarto. Na varanda, apetece ficar mais tempo, a apreciar a vista poente e noturna.

Em relação à gastronomia, recomendo um dos restaurantes que o Tróia Design Hotel tem para oferecer, com diferentes estilos de cozinha.

A Brasserie Salinas é uma sala de pequenos-almoços e um espaço que destaca a cozinha de origem atlântica com um forte sabor aos sabores do mar. A sala estende-se para o exterior através de um amplo terraço que permite desfrutar do sol.

O B&G by Blue & Green caracteriza-se por uma abundância de luz natural, filtrada através de lâminas de betão, complementada por um sistema de iluminação artificial, nos tetos, caixas de luz horizontais, que revelam os nichos existentes em toda a área, e pelo volume monolítico da cozinha, que é envolto numa malha metálica, permitindo criar uma relação visual controlada entre o público e o local de preparação e experimentação. Este volume divide o restaurante em dois espaços, um mais reservado e outro mais público, permitindo ajustar os níveis de privacidade e luz, bem como a relação com a envolvente. Com uma vista magnífica sobre a marina, oferece uma ementa de cozinha portuguesa inspirada nos sabores da região, como o queijo de cabra com bacon; o croquete de alheira com compota de maçã; e o filete de dourada assado na frigideira, com terrina de batata crocante, coulis de pimento vermelho e tomate seco, espargos e molho Viérge. Iguarias que apreciei e recomendo, não esquecendo um Dona Ermelinda Tinto, com castas de Castelão, Sauvignon Blanc e Touriga Nacional.

O Restaurante B&G, a Brasserie Salinase, ainda, o Bar-Discoteca NYX têm ambientes desenhados pelos arquitetos Fernando Sanchez Salvador e Margarida Grácio Nunes (FSSMGN arquitectos lda).

O Paprika Pool Bar é um espaço sazonal, com uma vista magnífica para a Serra da Arrábida, onde se pode saborear deliciosos petiscos, saladas e sumos frescos, quando o tempo melhora. Entre outras coisas, durante estes dias nesta esplanada, comi um apetitoso choco frito com molho tártaro e batatas fritas. No estuário do Sado, o choco nasce, cresce, desova, é pescado e acaba nas grelhas ou nas fritadeiras. A bicicleta das bolas de berlim está, por agora, no interior do corredor que leva a este bar e que, no verão, distribui, na zona envolvente da piscina, o bolo tradicional da culinária alemã, cuja receita chegou a Portugal durante a Segunda Guerra Mundial, pela mão de refugiados judeus, tornando-se um sucesso imediato.

Os fornecedores de produtos a esta unidade hoteleira são maioritariamente regionais, sendo que há grandes produtores que estão estabelecidos no MARL – Mercado Abastecedor da Região de Lisboa. Importante é a parceria que o hotel tem com a Nespresso. No primeiro ano, o hotel recolheu cerca de 400 quilos de cápsulas, para que o alumínio fosse separado da borra do café, sendo esta oferecida pela Nespresso aos produtores de arroz da região. O arroz é, por sua vez, adquirido pelo hotel que o doa ao Banco Alimentar, como responsabilidade social. Uma outra parceria é com a Tabaqueira, que está consciencializada para a saúde e o ambiente, sendo recolhidas beatas na zona envolvente do hotel e na praia, com a envolvência dos colaboradores, bem como de alguns clientes se o desejarem.

Integrado no hotel, o Blue & Green Spa oferece quatro zonas de tratamento diferentes: o Green Spa, a Balneoterapia – Blue Spa, a Beleza e a Zona Aquática, em 1 200 m2, 14 salas e mais de 70 tratamentos realizados por terapeutas qualificados. Usufruí da piscina e dos espaços livres complementares, ao som ambiente de “Aquarium”, de _Spartan 1023_.

O Centro de Conferências está situado num ambiente amplo, versátil, com luz natural e tecnologicamente avançado. Com um serviço de “catering” personalizado, este centro de conferências integra um amplo salão de gala, com capacidade até 850 pessoas e 14 salas de reuniões e “break outs”, destinado a conferências, festas, exposições, congressos e reuniões de negócios e outros eventos.

O Casino tem cerca de 4 000 m2 para jogo, compostos por 226 máquinas e 16 mesas de jogo e dotada de uma alta tecnologia capaz de adaptar em tempo real a oferta e a procura existentes, ou seja, as preferências do cliente. Inaugurado a 1 de janeiro de 2011, a sua conceção arquitetónica é surpreendente e audaz em termos de tecnologia, aliciante em termos de animação e convívio, bem como de entretenimento. O Bar Central Estratosphera é o centro de entretenimento e desempenha uma dupla função (bar e palco), onde há animações multimédia com DJs e VJs. O Centro de Espetáculos foi concebido por arquitetos especialistas em som e luz e está equipado com as mais recentes e sofisticadas tecnologias. É uma sala polivalente preparada para receber todo o tipo de eventos, podendo ser utilizada para espetáculos para cerca de 545 pessoas ou como banquete para cerca de 380 pessoas.

Por fim, escrevo estas últimas palavras no B.A.R., situado junto à receção e local ideal para tomar uma bebida ou um café enquanto se leem as notícias do dia. Olho a peça artística que domina o interior do hotel e sobre a qual ainda não escrevi muito, propositadamente. Há quem diga que o hotel foi construído à volta da “Cinderela” (2011), uma enorme sandália do pé esquerdo da autoria de Joana de Vasconcelos, quando a artista já dera início a uma série de obras que questiona a condição doméstica da mulher. A artista ficou com a sandália direita. De acordo com a informação do seu ateliê, partindo de um rotineiro objeto da cozinha e estabelecendo uma improvável associação ao mundo do glamour. Através da sobreposição de tachos em aço-inoxidável e das suas tampas, a artista plástica cria um outro símbolo, associado tanto à elegância da sétima arte (declinado nos títulos “Marilyn”, “Dorothy”, “Priscilla” e “Carmen Miranda”) ou às aspirações oníricas do imaginário infantil (nomeado através de “Cinderela” ou “Betty Boop”). A multiplicação do objeto de pequenas dimensões – o Silampos número 16, que em Portugal é usado diariamente para cozer arroz branco para uma família de quatro pessoas – dá origem à escala monumental, naquela que poderia ser uma alusão ao papel estoico, e não frequentemente reconhecido, desempenhado pelas mulheres do mundo inteiro. Fazendo referência a conhecidas histórias de transformação, a artista plástica cria ainda uma camada de significado, com o objetivo de desconstruir estereótipos.

A construção do futuro de Tróia talvez esteja na desconstrução de estereótipos sobre o passado e o presente, nem demasiado fechado às populações, nem demasiado aberto às confusões. Todas as varandas interiores ladeiam a exuberante obra da artista portuguesa, vendo-se grande e em pormenor – ou deixando-a pequena, quando vista a partir de um dos últimos andares, ou seja, as escalas todas em que se opera no Tróia Design Hotel. O início e o fim deste texto tocam-se, por curiosidade. Por estes dias, acordo com todas as cores e a luz nos meus olhos à espera de que todos os sentidos me guiem no caminho por este hotel absolutamente apaixonável. Até porque uma das músicas que escuto neste hotel é “Colours”, de Bliss: “Wake me with all your colours / And help me to see the light / Call me with all your senses / I need to see the way // Wake me with all your colours / And help me to fall for you / I feel wrong, I feel right… / Fill me with love!

 

*Jorge Mangorrinha é pós-doutorado em Turismo, doutorado em Urbanismo, mestre em História Regional e Local (especialização em Património) e licenciado em Arquitetura. Autor multifacetado recebeu o Prémio José de Figueiredo 2010 da Academia Nacional de Belas-Artes. Com experiência no planeamento turístico, em Portugal e no estrangeiro, exerceu, também, como gestor técnico na Parque Expo’98 e como presidente da Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal (1911-2011). Colabora com o TNews, tendo sido o autor da rubrica “A Biblioteca de Jorge Mangorrinha”, a que se seguiu “Há História no Hotel”.

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