Postado em quarta-feira, 9 de abril de 2025 07:57

Um Porto secreto

Uma “casa portuguesa” renasceu na rua de Ricardo Severo e passou a ser um novo boutique-hotel. A denominada “Casa Ricardo Severo” foi desenhada pelo próprio proprietário, engenheiro, arqueólogo, escritor e político republicano. Desde outubro de 2024 que ressurge através de uma intervenção respeitadora das origens e das formas do edifício e da sua envolvente, acrescido de um corpo novo separado do antigo. Contribui para isso o cuidado dos seus atuais proprietários, um casal francês detentor da empresa Constellation du Taureau e de uma galeria de arte em Paris gerida por Géraldine Banier. A arte está viva neste palacete do Porto, que a abriga, com funcionamento integrado, para quem quiser ter uma experiência com história e contemporaneidade.

 

Ricardo Severo da Fonseca Costa nasceu em 1869 em Lisboa e formou-se em Engenharia Civil de Minas (1890) pela Academia Politécnica do Porto. No ano seguinte, já era conhecido como ativista da corrente republicana contra a monarquia portuguesa. Tal arrojo obrigou-o a exilar-se no Brasil, em 1892, onde exerceu a profissão e conheceu Francisca Santos Dumont, com quem casou no ano seguinte, filha mais nova de Henrique Dumont, abastado proprietário de grandes lavouras e fazendas de café. Depois, juntos, tentaram a sua sorte em Portugal, a partir de 1895, portanto ainda em regime monárquico. Na época, Severo procurava desenhar um “estilo português” para a habitação unifamiliar. Precisamente, é esse o traço que norteará o projeto da sua casa de família, cujo processo camarário foi iniciado, em 1902, para a antiga rua do Conde (atual rua de Ricardo Severo). Esteticamente, enfeixam-se elementos heterogéneos que resultam da sobreposição de influências mais ou menos assimiladas e coexistentes, embora sob aparências antagónicas. Além dos quartos e salões, a casa original tinha escritório, espaço das empregadas, cozinha e pombal.

A família viveu, porém, pouco tempo neste palacete, até 1908, porque o sentido republicano de Ricardo Severo não o deixava sossegado antes da implantação da República e porque se abria um largo campo para a arquitetura e a engenharia no Brasil, tal como se efetivou na renovação da arquitetura paulista. O casal teve muitos filhos, aliás, a mitologia grega e hindu ligada à área da fertilidade está expressa nos pormenores artísticos do palacete.

Ao chegar às imediações deste novo hotel, ele não se descortina de imediato. É preciso contornar o muro que o encobre e ler a identificação no portão de entrada. Este sítio discreto fica a 150 metros do início da Avenida da Boavista. Ali, no exterior, ouvem-se os pássaros ou a fonte contemporânea em frente da entrada. Com um tempo chuvoso, o primeiro encontro com o espaço foi a casa propriamente dita, ao contrário dos atuais proprietários aquando da sua primeira visita ao local, cuja descoberta fez-se pelo jardim, o espaço que desde logo os encantou, aliás, para eles era muito importante encontrar algo com alma no centro da cidade e com jardim, para colocarem em prática o conceito de luxo informal. A inauguração ocorreu a 17 de outubro de 2024 e contou com a presença de Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto.

Na minha chegada logo se revelaram a simpatia e a elegância dos dois porteiros de serviço, Duarte Costa e Patrício Magalhães. Nesse dia não se encontravam o Hélder e o Miguel, que conheci depois e se equiparam aos demais nas atenções ao cliente. Aliás, são exemplo de uma das constantes do quotidiano neste hotel, ou seja, a simpatia de todos, sem exceção, o que é digno de nota. Na receção, Ricardo Silva é o protótipo de um chefe de receção competente, pelo fino trato, educação e disponibilidade. Aliás, seria com ele a visita de conhecimento do hotel. Como oferta, um bloco de notas personalizado com o número do quarto. Durante o “check-in”, a prestimosa diretora-geral, Joana Almeida, deu-me as boas-vindas e logo afirmou: “A casa é sua”.

Joana Almeida é de uma simpatia transbordante e um falar sereno, pausado e conhecedor, e cujo sotaque nortenho lhe dá um toque genuíno e cativante. A nossa conversa foi na mesa de canto do bar, de onde se tem uma perspetiva sobre a receção, a zona de passagem e o bistrô Severo. E conta: “Os proprietários conheceram-se no Porto e apaixonaram-se pela cidade. Num certo momento, entenderam fazer um investimento num hotel-boutique, um conceito já disseminado em Paris. O jardim e uma casa de família, com alma, era o pretendido. Na época, esta casa pertencia à família de Pinto Mesquita, mas já não era habitada.” Para o confronto com a burocracia portuguesa, contactaram o arquiteto Carlos Prata, que ajudou nesse processo e fez o conceito inicial. A meio do projeto, Carlos Prata deu lugar a Bernardo Abrunhosa de Brito, que terminou o processo e projetou o corpo novo. A obra foi realizada por técnicos de conservação e restauro formados pela Universidade Católica. A arquitetura de interiores é da autoria do arquiteto Paulo Lobo.

Os proprietários ficam no hotel, de vez em quando, embora tenham uma casa no Porto. Diz Joana Almeida: “Eles experimentaram os quartos todos, antes até da abertura.”

O quarto número 6 esperava-me no piso superior, magnificamente localizado, de canto numa das esquinas do edifício e com uma varanda debruçada ao jardim. Com grande presença está um quadro temporário com inúmeros riscos de canetas de diferentes cores de autoria da artista Angiola Gatti, que pode ser vendido, ou seja, poderei levar uma parte deste quarto onde pernoito como boa memória. A artista ultrapassa a fronteira entre pintura e desenho, sugerindo a irrelevância de tais distinções em um contexto contemporâneo. Nascida e criada no berço da Arte Povera, o uso da caneta esferográfica do dia a dia é um aceno para a defesa do movimento de ferramentas comuns e acessíveis que ela usa em seu próprio estilo de pintura. A caneta esferográfica aproxima-a da sua obra de arte de uma forma física, de modo que, como diz, a “tela é quase esculpida”, pela força com que ela pressiona a caneta em seu trabalho.

O corpo sanitário do quarto é uma caixa autónoma, que não sobe ao teto para o deixar todo amplo e original. O pavimento deste espaço sanitário é aquecido, o que é uma raridade na hotelaria, o dispositivo da temperatura marca 27.1 C. Os produtos em presença são da marca 8950, originários do Algarve – “O nosso propósito foi criar uma linha de Amenities de higiene pessoal para a hotelaria que fosse boa para a pele e para a Terra. Os ingredientes são naturais e de origem vegetal e está disponível apenas em embalagens de vidro e de cerâmica recarregáveis. Este é o nosso contributo para a redução do desperdício e da poluição da terra, do ar e das águas dos rios e do mar.” (8950 Cosmética) –, e os têxteis da Sampedro, de Guimarães – “Um século de ‘know-how’ acumulado permite-nos antecipar os problemas e encontrar as soluções mais inovadoras. Um rigoroso controlo de qualidade garante um produto sem defeitos.” (Sampedro).

Junto à entrada deste quarto, do lado de fora, vê-se uma escadaria estreita, curva, íngreme e desafiante, que dá acesso a um quarto, o mais pequeno de todos, vulgarmente chamado “mansardinha”, inspirado no minimalismo e funcionalismo japonês. Seja no quarto que me coube ou no mais alto e pequenino o descanso é absoluto. Um dos quartos no palacete foi o escritório de Ricardo Severo, com porta privada para o jardim, e a atual casa de banho está onde existia um cofre. Os minibares são personalizados, de acordo com as preferências dos hóspedes, basta ligar pelo número 9 e informar a receção sobre o que se gostaria de ter disponível.

Ao visitar o edifício pela primeira vez, surpreendem-me os vitrais (oficina do artista catalão Antoni Rigalt i Blanch), os tetos de madeira, os frescos das paredes, as portas, as ferragens, os lambris e as portadas originais, os azulejos e os mosaicos. Na obra, houve uma equipa de técnicos de restauro a trabalhar durante um ano, nomeadamente franceses, durante a qual foram capturadas mais de 1 200 fotografias, que figuram num livro que perpetua a obra e a simbologia dos elementos – evocações a Neptuno, na fonte de granito do antigo pátio, a Atena, num dos vitrais mais impressionantes do edifício, bem como reproduções da suástica hindu em alguns mosaicos, traço típico do neorromantismo. As portas de madeira dos quartos foram abertas ao meio, para serem insonorizadas e posteriormente reagrupadas, e o carvalho centenário do jardim ficou resplandecente, liberto da vegetação selvagem que os anos de abandono fizeram crescer à sua volta.

O edifício é um espaço museológico, onde o antigo convive com o moderno. A relação entre o romantismo clássico e a contemporaneidade dos nossos tempos atuais existe em todo o edifício, no qual se salientam a biblioteca, “um espaço que nos dá muito orgulho e onde um cliente pode relaxar ou trabalhar”, e a sala de reuniões, “a nossa protegida”, nas palavras de Ricardo Silva, com frescos restaurados, lambrins e pavimento de madeira e uma grande mesa elíptica moderna com tampo espelhado. Abrindo os dois espaços, consegue-se fazer um “coffee-break” com privacidade.

A galeria de arte é manifestada nos diferentes espaços, seja nos quartos, como nas áreas comuns. Regularmente, é inaugurada uma exposição temporária. Desta vez, está em exibição “The House is a Museum of Details”, com os autores Marco Cordero, Angiola Gatti, Claudia Losi, Marzia Migliora, Irene Pittatore, Elena Pugliese Enrico Tealdi e Alice Visentin, numa curadoria de Francesca Comisso. As obras podem ser adquiridas pelos hóspedes, nomeadamente a obra que está no próprio quarto. A galeria proporciona uma experiência visual imersiva, criando uma ligação imagética entre a Perspective Galerie Porto e a Perspective Galerie Paris. A Galerie Géraldine Banier foi fundada em 2002 para abordagens interdisciplinares, orientadas para o conceito e baseadas no espaço em uma variedade de expressões artísticas, incluindo escultura, pintura, desenho, fotografia e vídeo. Tão íntimo quanto aberto e com a aparência de um apartamento elegante, o espaço incentiva a uma mudança de perspetiva e a um diálogo sobre a criação contemporânea. Em 2012, em Saint-Germain-des-Prés, criou-se um circuito de exposições que reúne galerias, livreiros e antiquários do bairro em torno de um tema comum, o gabinete de curiosidades, tornando-se um encontro anual. Entretanto, no hotel do Porto, todas as exposições – e respetiva curadoria – convidam os visitantes a embarcar numa jornada artística.

A esta jornada, junta-se a jornada gastronómica. A cozinha deste hotel é uma grande fusão de ideias por parte de todos aqueles que a usam, sendo dirigida a todos aqueles que saboreiam o produto das ideias.

O antigo pátio central, agora fechado através de uma cobertura envidraçada – o único elemento estrutural não original –, abre-se à zona de pequenos-almoços e ao bistrô de pratos da gastronomia mediterrânica. Neste cenário, serve-se “uma cozinha de conforto, acima de tudo”, segundo Tiago Bonito, com destaque para o receituário portuense, tendo em vista servir o hóspede, mas também quem do Porto lhe apeteça uma degustação de conforto. Tanto os pequenos-almoços como o almoço foram servidos por José Ribeiro, empregado de mesa, extremadamente atento aos clientes e cuidadoso a repor a composição das mesas. Aliás, uma das particularidades deste boutique-hotel é o modo como se serve o pequeno-almoço, num tabuleiro diretamente na mesa com quase tudo o que é preciso, mas aberto a pedidos suplementares, designadamente por carta. Não há pressa além da hora prevista de fecho do período para o pequeno-almoço, o que é raro na hotelaria e próprio dos boutique-hotéis. A louça é da Vista Alegre, no modelo Domo White. A experiência não só é memorável pelos sabores em presença como pela música de ambiente, a qual reforça a tranquilidade da experiência. Neste espaço, ao som da chuva como se fosse mais um instrumento de jazz, saboreei o primeiro jantar, servido pelo atento e conversador Pedro Campos, e sem dúvida um bao de leitão “bairradino”, um arroz malandrinho de peixe da nossa costa e camarão e um creme “brulée” de yuzu. Antes, no bar, tomei um cocktail aperitivo, com gin japonês à base de limão e yuzo, com os quais se faz uma infusão com chá das ervas aromáticas do jardim, depois acrescenta-se um licor de bergamota para dar frescura e acidez e um pouco de Vermute branco seco e lúcia-lima acabada de colher. “Tenha, então, a bondade”, disse aquele simpático barman.

Nesse primeiro jantar, ao som da música e da chuva, a especialista em escanção Sara Godinho explicou os vinhos que serviu: “Temos aqui um Sem Abrigo (Douro 2021), que não está na Carta de Vinhos. Vou-lhe dar algumas surpresas que não estão na Carta para aproveitar coisas diferentes. Mais importante ser eu a recomendar, é o senhor também gostar daquilo que eu estou a recomendar. Ele tem um toque muito floral e muito bem balanceado com a parte aromática da fruta, uma boa acidez crocante. Um vinho que não é nada aborrecido.” Pedro Campos manteve-se muito presente durante o jantar, seja a conversar, seja por detrás do vidro com olhar atento aos meus gestos, por sinal de satisfação. “Isto era, para mim, uma casa assombrada”, lembra. Curiosamente, os avós paternos do Pedro fundaram e geriram durante muito tempo o restaurante Adega da Figueiroa, o primeiro na esquina da Boavista com a Cedofeita e o segundo na rua Sacadura Cabral. A conversa levou-nos, também, ao assunto do tratamento pessoal entre prestador de serviço e cliente, em que não se deve aplicar a palavra “você”, que, porém, se está a generalizar, indevidamente, ou como diria a diretora-geral Joana Almeida: “Se alguém o fizer, a leitura feita do lado do cliente não é aquela que nós esperamos”.

Olho para a beleza deste antigo pátio fechado: “Isto foi feito com tempo”, disse eu. “E com amor”, completou Pedro Campos, que acrescentou ter conhecido os atuais proprietários no restaurante InDiferente, na Foz: “São daqueles franceses que eu gostaria que muitos investidores estrangeiros olhassem para eles como exemplo”.

No dia seguinte, experienciei o restaurante Éon, que se deve ao “chef” Tiago Bonito (Estrela Michelin no restaurante Largo do Paço, Casa da Calçada Relais & Chateaux, em Amarante). A sala é pequena e muito bonita, sobretudo pelo seu teto original de madeira, que “olha” de cima, todos os dias, cada prato e uma história sensorial única. Única também é esta ementa, apresentada num postal assinado por Tiago Bonito, dentro de um envelope em papel verde-azeitona que se abre criativamente e cuja legenda inscrita diz: “no intervalo de éon, a memória vive.” No Palacete Severo, criam-se memórias baseadas no legado de gerações, porque foi a proposta de Tiago Bonito que vingou junto dos proprietários. O nome deste restaurante tem origem no “período incomensurável de tempo”. A acompanhar o conceito de modernidade do “chef” Tiago Bonito, estão a criatividade do “chef” pasteleiro Pedro Carvalho. Este jantar de cortesia foi servido pelo chefe de sala João Silva, esmerado e educado, com uma ementa de 14 momentos para comer até não poder mais, através da qual se percorrem as recordações de infância do “chef”, criando-se, ao mesmo tempo, memórias novas. Sara Godinho conduziu-me pelas escolhas apropriadas aos alimentos desta refeição: “A maior parte do menu de harmonização vai ser com brancos”. Um Alvarinho de 2015 é evolutivo e com toque de complexidade, para começar. O João foi descrevendo todos os pratos e a Sara deu continuidade à sucessão de vinhos.

No bar, importa referir a delicadeza de Gabriel Ferreira, que me serviu um chá sem cafeína, denominado “A Festa das Flores” e produzido pela Camélia, empresa de Fornelos (Vila do Conde), cuja proprietária é a mulher de Dirk Niepoort, grande produtor de vinhos, aliás, é dessa produção o Porto de cortesia no quarto. O chá que ingeri tem manjericão, canela, hortelã pimenta, perpétua morango, perpétua roxa, calêndula, girassol, toque de menta e aromas florais. Segundo Nina Gruntkowski, “como temos experiência na produção de vinho e estamos convencidos de que o mundo do chá é igualmente complexo e interessante, começamos a sonhar em produzir chá. Sabemos que a planta de chá é uma espécie de Camélia, e ao vivermos perto da chamada ‘terra das Camélias’, no litoral norte português, o nosso sonho começou a tornar-se realidade.” Nesta minha experiência, o chá acompanhou um prego dividido em dois pães, bacos comidos à mão, que, naquele momento, me souberam tão bem, seguido de uma rodela de torta de laranja, com requeijão e gelado de mascarpone.

Não me coibi de circular por esta casa durante os três dias de convívio. A madeira range, porque há vida. Quando a madeira fala, sabemos que o palacete está vivo e a preparar-se para nos dar dos bons dias às boas noites, com o cuidado de quem faz gosto de nos receber em casa. Não será por acaso que oiço The Magic Lantern e a canção “This Life” (“This life / This life that we have / Is a fragile thing / That creaks with age in the morning”).

Aos 11 quartos e suítes na casa do início do século XX junta-se um edifício construído de raiz nas traseiras, com mais 6 quartos, o ginásio e o spa, onde se utilizam produtos da marca francesa Olivier Claire, chancela pioneira em cuidados naturais da pele e símbolo de serenidade e excelência, que marca neste local a sua entrada em Portugal. O espaço tem, à entrada, vitrais transferidos da casa e em ótimo estado de conservação. Seguem-se salas de tratamento, uma delas com sal dos Himalaias, onde se faz sauna de sal a baixa temperatura. Neste lugar “o silêncio é respeitado e honrado”, segundo palavras da direção do hotel, e as mãos da fisioterapeuta Lúcia Saraiva são de ouro, provavelmente a melhor massagem da minha vida, uma massagem de Assinatura Severo, simultaneamente de relaxamento e terapêutica, multissensorial, com óleos essenciais. A piscina é para uso exclusivo dos hóspedes.

Durante o período da minha presença ainda conheci outros rececionistas, a estagiária Beatriz Baldaia e a argentina Josefina Getz, com origens germano-argentinas e formação em Organização de Eventos e em Comunicação Social, que, há dois anos, veio procurar novas oportunidades no turismo português e porque “a Argentina não tem futuro”; por sinal, é filha de uma conhecida atriz do teatro e do cinema argentinos. A estes nomes, junto o de Helena Madureira, que fez o “check-out”, e o de Luís Queirós, que simpaticamente me esclareceu uma dúvida, através de um telefonema para a receção em dia posterior à minha saída. Este é a notável hospitalidade duriense e portuense.

O ambiente é romântico, com a presença constante de uma seleção musical escolhida pela própria diretora-geral, feliz no género, pois as sonoridades do jazz cantado e do “folk” alternativo são as melhores para dar a este ambiente a tranquilidade desejada. Muitos são os exemplos que eu poderia dar, porque os ouvi, agradavelmente: “The Look of Love”, de Saskia Bruin: “The look of love (…) / You’ve got the look of love / It’s on your face / A look that time can’t erase”.

Nesta casa também há um olhar que o tempo não consegue apagar. Tanto assim é que está agendado para o próximo ano um encontro de herdeiros de Francisca Dumont e Ricardo Severo. Conta Joana Almeida: “Nós tivemos aqui um bisneto que vive no Brasil. Veio visitar a casa e ficou encantado. Então, fez uma convocatória aos primos para virem passar aqui um fim de semana, juntarem-se com os primos que estão em Portugal, fazerem um evento e ficarem no hotel. Já temos o bloqueio do espaço em exclusividade. Acho que é especial para eles e para nós.”

Este hotel é um museu de pormenores. Há que notar, também, que o vinho que dá nome ao restaurante – Éon – tem duas castas, uma do Dão e outra de Lisboa, muito especial, que une geografias, assim como transporta ao futuro o passado e o presente desta casa.

*Jorge Mangorrinha é pós-doutorado em Turismo, doutorado em Urbanismo, mestre em História Regional e Local (especialização em Património) e licenciado em Arquitetura. Autor multifacetado recebeu o Prémio José de Figueiredo 2010 da Academia Nacional de Belas-Artes. Com experiência no planeamento turístico, em Portugal e no estrangeiro, exerceu, também, como gestor técnico na Parque Expo’98 e como presidente da Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal (1911-2011). Colabora com o TNews, tendo sido o autor da rubrica “A Biblioteca de Jorge Mangorrinha”, a que se seguiu “Há História no Hotel”.

 

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