Postado em sábado, 11 de março de 2023 09:16

Nos últimos meses, os preços não escalaram apenas nas prateleiras dos supermercados. Refletindo a inflação dos produtos alimentares e de outros custos, como a energia, também dispararam nos restaurantes, tornando-se cada vez mais proibitivos para muitos portugueses. A diminuição dos clientes é notória em vários estabelecimentos, provocando uma grave crise no sector.

Segundo dados da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), só entre outubro e dezembro do ano passado fecharam, em média, 14 restaurantes por dia. No total, registaram-se 1281 dissoluções de empresas no quarto trimestre de 2022, o que representa um aumento de 162% face ao mesmo período do ano anterior.

“São números que nos preo­cupam e que nos levam a reforçar a necessidade de serem criados mecanismos de apoio às empresas que não passem só pelas linhas de crédito. Insistimos na aplicação temporária da taxa reduzida de IVA nos serviços de alimentação e bebidas”, defende Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP.

De acordo com um estudo da consultora NIQ (antiga Niel­sen), realizado em janeiro, 38% dos portugueses referem que passaram a comer menos vezes fora nos últimos três meses. “Antes de reduzir gastos nas compras de híper e supermercados, uma parte dos portugueses começou por cortar noutras áreas, nomeadamente na restauração”, explica Ana Paula Barbosa, diretora de Retalho naquela consultora.

Passando a cozinhar mais em casa, nomeadamente para levar marmita para o trabalho, muitas famílias até aumentaram as compras nos supermercados. Daí que as vendas e o volume do retalho alimentar apresentem neste momento em Portugal um crescimento positivo (2,5%), sendo o único país europeu onde isso se verifica.

A acentuada inflação dos produtos alimentares impôs novos padrões de consumo, com uma opção cada vez maior pelas marcas brancas e uma diminuição do consumo de peixe, uma das categorias que mais aumentou. Mas, ao contrário do que aconteceu nos primeiros meses em que os preços escalaram e em que as famílias praticamente só levavam para casa os produtos básicos, agora estão a crescer as vendas em categorias improváveis, como as pastilhas elásticas e a confeitaria. “Como aconteceu na última crise económica, há 10 anos, os consumidores procuram comprar também produtos que lhes tragam algum conforto ou prazer”, explica a consultora.

 

Texto Joana Pereira Bastos e Raquel Albuquerque | EXPRESSO