BIOGRAFIA
Tudo começou em 1998, quando decidi seguir o meu instinto e ingressar na Escola de Hotelaria e Turismo de Faro. Foram três anos (de 1998 a 2001) que moldaram profundamente quem sou. Foi ali que aprendi não só as bases da profissão, mas também valores que ainda hoje levo comigo: rigor, paixão e dedicação. Os famosos tempos do Diretor Wenscelau, que muitos ainda recordam com respeito e carinho.
Enquanto aluno, tive o privilégio de representar a escola em várias competições de bar. Vivi momentos únicos, conquistei prémios importantes e, acima de tudo, cresci como pessoa e profissional. Entre os momentos mais marcantes, destaco o ano de 2000, quando fui Vice-Campeão Nacional Short Doce Absoluto e, no mesmo ano, Campeão Ibérico — conquistas que me deram uma enorme motivação para seguir este caminho com ainda mais força.
Mal terminei o curso, a vida começou a acontecer depressa. Fui convidado para assumir o cargo de Chefe de Bar no prestigiado “Monty’s”, em Vale do Lobo. Aceitei o desafio e mergulhei de cabeça. A temporada foi intensa, cheia de aprendizagem e contactos, mas no final percebi que não era homem de “receber ordens”. Queria criar, queria decidir, queria fazer à minha maneira.
Foi então que desafiei um amigo de infância, o Nelson Vital, gerente do mítico restaurante Barca Velha, a arriscarmos juntos num projeto próprio. Assim nasceu o “Karisma Bar”, em Vale Judeu. O sucesso foi imediato — casa cheia, ambiente incrível — mas cedo percebemos que o espaço era pequeno e que a distância da cidade dificultava a frequência de alguns clientes. Decidimos procurar algo maior… e em dezembro de 2003 comprámos o trespasse de um espaço em Loulé, remodelámo-lo integralmente e abrimos o “Bar 28”.
Abrimos mesmo a tempo do Euro 2004, e o ambiente era mágico. Curiosamente, foi também lá que conheci a mulher da minha vida, e por isso aquele espaço ficará para sempre gravado na minha memória.
Em 2005, surgiu no mercado o “CampVs Bar”, um dos espaços noturnos mais emblemáticos de Loulé. Depois de muito ponderar, vendi a minha parte no Bar 28 e abracei este novo desafio, agora a solo. Foram anos de muito trabalho, muitas noites longas, mas também de grandes conquistas. Em novembro de 2010, senti que era tempo de fechar esse capítulo e vender os direitos de exploração.
No início de 2011, surgiu um novo projeto: a compra de uma loja no empreendimento “O Pomar”, em Cabanas de Tavira. Um antigo colega da Escola de Hotelaria, Luís Diogo, lançou-me o desafio e aceitei. Assim nasceu o “The Old Barrel”, um espaço que, com muito orgulho, continua até hoje a ser uma referência no Sotavento Algarvio.
O ano de 2014 trouxe a maior alegria da minha vida: o nascimento do meu filho Rodrigo. E com ele, veio também uma reflexão profunda. Trabalhar à noite significava não o ver crescer, não viver o dia-a-dia com ele. O stress aumentava e percebi que precisava de mudar. Em 2017, decidi vender a minha participação e virar a página.
Abracei então o negócio de família, o “Mundo do Vinho”, fundado pelo meu pai em 1983. Poucos meses depois, a vontade de inovar e expandir falou mais alto. Nesse verão, desafiei um amigo de infância a levar a marca para o estrangeiro. Assim nasceu o “Mundo do Vinho à Paris”, um projeto que levou o encanto e o sabor dos vinhos portugueses até à capital francesa.
Mas a minha vida nunca foi só feita de copos e garrafas. Sempre acreditei que ensinar é a forma mais bonita de deixar um legado. Por isso, em 2005, aceitei o convite para ser formador nos cursos de Educação e Formação, na área de Restaurante-Bar, na Escola Engenheiro Duarte Pacheco. No ano seguinte, a Escola Secundária de Loulé lançou o curso profissional na mesma área e convidou-me a integrar o painel de professores.
Durante vários anos conciliei as duas escolas e as empresas, até que, em 2016, decidi dedicar-me em exclusivo ao negócio e manter apenas o ensino na Escola Engenheiro Duarte Pacheco, onde continuo a formar jovens talentos até hoje. Este ano, 2025, marca um regresso especial: volto à Escola Secundária de Loulé como formador. Regressar àquela casa, tantos anos depois, é mais do que um reencontro com o passado — é o início de um novo ciclo, guiado pela mesma paixão que sempre me acompanhou.
Ao longo destes anos de ensino, tenho sentido o maior orgulho em ver os meus alunos crescerem e brilharem. Desde a criação do Festival de Bar Interescolas, os meus alunos conquistaram o título de campeões em 10 das 15 edições realizadas — um feito que diz muito sobre o talento, o empenho e o espírito de superação de cada um deles.
As competições sempre foram uma parte importante da minha vida. Em 2012, representei Portugal no Campeonato Europeu “Roses Cup” na Dinamarca, ao lado de Eusébio Silva e do meu então aluno Ruben Candeias (que, até hoje, continua a ser o único aluno de um curso profissional do Ministério da Educação a representar Portugal numa grande competição internacional absoluta). Ficámos em 2.º lugar por equipas e eu conquistei o 14.º lugar individual.
Uns anos mais tarde, em 2016, participei ainda no “Bartender of the Year” em Singapura, onde alcancei a medalha de bronze.
Depois disso, decidi afastar-me das competições… até 2025.
Este ano, com o Campeonato Internacional a ser organizado pela Associação Barmen de Portugal, senti vontade de regressar e voltar a fazer parte deste mundo que tanto me inspira. E que decisão feliz! Venci a competição e, quase de seguida, recebi o convite para representar Portugal no Pan American, no Chile.
O resultado superou tudo o que podia imaginar: conquistei os dois primeiros lugares (Clássico e Non-Alcoholic Proof) e ainda fui distinguido com o título de “King of the Garnish”.
O ano de 2025 tem sido, sem dúvida, inesquecível. E termina da melhor forma: a preparar a minha ex-aluna e agora colega, Marta Domingues, para representar Portugal na “Golden Cup”, que se realizará em dezembro, em Taiwan. A Marta é um verdadeiro exemplo de dedicação e, já em 2010, quando ainda era minha aluna, conquistou a medalha de bronze na “Grand Marnier Cup”.
Hoje, olho para trás e vejo um percurso cheio de desafios, conquistas e aprendizagens.
Da escola onde tudo começou, às competições internacionais, dos bares que fundei às aulas que dou todos os dias, há uma coisa que nunca mudou: a paixão por esta profissão e o orgulho em representar Portugal no mundo.
Bruno Guerreiro